Temos pena, Spielberg. O T-Rex tinha lábios (e dentes escondidos)

Mark Witton / Universidade de Auburn

Um novo estudo sugere que focinho do mítico Tiranossauro era mais parecido com o dos lagartos, com lábios, do que com o dos crocodilos, com os seus grandes dentes expostos, como retratado no filme “Jurassic Park”.

A ciência pode estar prestes a desmascarar outro mito sobre o tiranossauro rex.

O debate sobre a aparência dos terópodes, o icónico grupo de dinossauros bípedes a que pertence o tiranossauro rex, vem de longa data — e o assunto levanta ainda controvérsia entre os cientistas.

De acordo com um novo estudo, publicado esta quinta-feira na revista Science, o aspetos do mítico T-Rex era bem diferente da que se imagina.

Os autores do estudo sugerem que o focinho dos terópodes como o tiranossauro rex e seus parentes não eram parecidos com crocodilos, com dentes salientes ao longo de uma extensa mandíbula.

Pelo contrário, concluíram agora os investigadores, os T-Rex tinham lábios a ostentavam um largo sorriso — mais como os atuais lagartos.

Segundo Thomas Cullen, paleobiólogo da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, reconstruções feitas por cientistas nos anos 1920 e 1930 apontavam que os terópodes teriam carne a cobrir os dentes.

Mas os media e a indústria do entretenimento, com destaque para o famoso Jurassic Park, filme de Steven Spielberg de 1993, mudou essa imagem, retratando o réptil com dentes enormes e sem lábios.

“Essa imagem do terópode enraizou-se no público: um grande bípede, com enormes facalhões de cortar carne a sair da boca“, diz Cullen.

Para verificar quão realista essa imagem poderia ser, Cullen e os colegas analisaram a relação entre o comprimento do crânio e o tamanho dos dentes de répteis vivos, como os dragões de komodo, que têm lábios e são parentes vivos dos terópodes, e de dinossauros como o velociraptor e o tiranossauro rex.

A equipa concluiu que os dentes dos terópodes não eram demasiado grandes nem demasiado longos para o tamanhos dos seus crânios — pelo que não há razão para acreditar que tivessem que protuberar das suas bocas.

Para ampliar a confiabilidade do estudo, os pesquisadores analisaram também o esmalte dos dentes, comparando um pedaço de dente de um daspletossauro (uma espécie de dinossauro carnívoro e bípede que viveu durante o período Cretáceo)  com o de um crocodilo moderno.

Os dentes dos crocodilos têm uma camada muito mais fina de esmalte na parte externa (ao contrário da parte interna, que fica voltada para a língua) do que os do dinossauro, sugerindo que os dinossauros provavelmente tinham lábios que protegiam os dentes.

Além disso, a equipa comparou a anatomia do crânio de vários animais vivos e mortos, constatando que os crânios dos dinossauros são muito mais parecidos com os dos lagartos e iguanas com lábios.

Contudo, o estudo tem uma limitação: é baseado numa amostra pequena, pelo que é possível que os seus resultados sejam enviesados.

“É um grande primeiro passo”, diz Ashley Morhardt, paleoneurologista da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St Louis, no Estados Unidos. “Os resultados são tentadores. Mas receio que precisaremos de ter ainda mais dados para poder ter certezas sobre o debate dos lábios dos dinossauros.”

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