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A televisão portuguesa continua a estereotipar mulheres “de forma persistente”

Alexandra Lencastre / Instagram

Os atores Marco d’Almeida e Alexandra Lencastre em cena

As obras de cinema e audiovisual produzidas em Portugal recorrem “de forma persistente” a estereótipos em relação às mulheres e falta-lhes pluralidade de representação de género e de outras identidades.

As conclusões são de um estudo apresentado, esta quarta-feira, que denuncia casos de assédio físico e moral, na televisão portuguesa, bem como os desequilíbrios de género do meio.

O estudo “A Condição da Mulher nos Setores do Cinema e do Audiovisual em Portugal” – promovido pela associação MUTIM (Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento) e apresentado esta quarta-feira – revelou que a televisão portuguesa ainda apresenta “de forma persistente” estereótipos sobre as mulheres.

O estudo, coordenado pela investigadora Catarina Duff Burnay, partiu de um inquérito respondido por 515 pessoas que trabalham no setor (363 mulheres, 143 homens e nove que não se identificam com o binário ou preferiram não responder), complementado com entrevistas a dez mulheres e com uma análise a concursos de apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual.

Em março passado, a MUTIM tinha já apresentado conclusões preliminares, nomeadamente que em Portugal as mulheres que trabalham nesta área ganham menos do que os homens, progridem mais devagar nas carreiras e que há casos de discriminação de género, assédio e racismo.

O estudo revelado em março é que do total de mulheres que responderam ao inquérito, “41.6% foram vítimas de discriminação de género, 37,6% foram vítimas de assédio no local de trabalho e/ou no desempenho de funções, 7,5% foram vítimas de xenofobia e 1,4% foram vítimas de racismo”.

Assédio físico e moral

Nas entrevistas, as profissionais contactadas fizeram “menções explícitas a assédio moral ou físico” e tiveram conhecimento de ou presenciaram casos concretos.

Os inquiridos, em particular as mulheres, reconhecem ainda que “as narrativas produzidas e realizadas na atualidade não são plurais em termos de representações de género e de outras identidades, recorrendo, de forma persistente, aos estereótipos.

Evidencia-se, também e de forma consensual, o desempenho de papéis subalternos por parte da mulher, em especial nas produções televisivas”, refere o estudo.

Desequilíbrios de género

O estudo atual aponta também um desequilíbrio de género entre homens e mulheres em cargos de topo nos grupos de media com canais televisivos em sinal aberto.

“Os conselhos de administração, assim como outros órgãos de gestão próprios de cada grupo, são integrados, maioritariamente, por homens. Isto também se verifica, e até de uma forma mais acentuada, nas direções de produção e programação”.

Na análise a 16 concursos de apoio financeiro do ICA, referente a 2022, o estudo revela que o volume de candidaturas apresentadas por homens é “substancialmente superior e existem concursos em que nenhum projeto liderado por uma mulher é financiado”.

Em março, a investigadora Mariana Liz, da MUTIM, explicava à agência Lusa que este estudo “pode servir para desenhar novas políticas públicas ou que tenham em atenção uma óbvia desigualdade neste setor”.

A apresentação deste estudo insere-se no 1.º Fórum MUTIM sobre desigualdades de género no cinema e audiovisual que começou esta quarta-feira e termina sexta-feira, no Goethe Institut, em Lisboa.

ZAP // Lusa

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