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Tartarugas verdes exterminadas nas ilhas a norte de Moçambique

Brocken Inaglory / Wikimedia

Chelonia mydas, uma das espécies ameaçadas de tartaruga que nidifica nas águas de Moçambique

Chelonia mydas, uma das espécies ameaçadas de tartaruga que nidifica nas águas de Moçambique

Várias tartarugas verdes, uma espécie marinha em vias de extinção, estão a ser exterminadas por pescadores em ilhas a norte de Moçambique, onde à noite são vendidas no mercado clandestino para consumo, denunciou o ambientalista moçambicano Carlos Serra.

Em declarações à Lusa, Carlos Serra disse que os casos mais alarmantes estão a ocorrer na Ilha de Moçambique e num conjunto de ilhas à volta, que descreveu como “pontos ecológicos muito atractivos onde as tartarugas nidificam”.

“Os pescadores usam a rede mosquiteira para as caçar. O que está a acontecer é uma autêntica chacina da tartaruga, cuja carne é muito apetecida. A carne chega durante a noite e entra no circuito de venda de forma clandestina a preço de 30 meticais/quilo” (72 cêntimos), disse Carlos Serra sobre o abate naquela região do país das tartarugas marinha de várias espécies, em especial a verde.

As tartarugas marinhas, que podem viver 100 anos, são animais protegidos devido a sua importância no estudo da longevidade dos vertebrados, pois sendo animais de ciclo de vida longo, elas são usadas como modelo de investigação para se perceber como os animais superiores evoluíram para estarem aptos a suportar diferentes condições ambientais.

Moçambique ratificou a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas e vários acordos internacionais, que defendem a protecção destas espécies marinhas por representarem cerca de 150 milhões de anos de evolução e, em caso de extermínio, poder criar um vazio ecológico impossível de preencher por outras espécies.

Algumas tartarugas “são exterminadas antes de pôr ovos. É assustador o que acontece. São muitas (as que foram mortas). Fui lá propositadamente por causas das tartarugas. Ouvi histórias sobre as matanças e tratei de chegar a ilha de Sena. Estamos completamente contra lei”, considerou à Lusa Carlos Serra, que publicou nas redes sociais dois vídeos onde se podem ver carcaças de tartarugas verdes abatidas.

“O que se diz ao nível local é que há o hábito de se comer a tartaruga. Como é que se explica que isso esteja a ocorrer na Ilha de Moçambique onde há representação de todas as entidades que têm que proteger a costa?” – questionou o ambientalista, autor da obra “Estado, Pluralismo Jurídico e Recursos Naturais: Avanços e Recuos na Construção do Direito Moçambicano”.

As tartarugas-verdes, assim designadas por terem uma carapaça verde e que chegam a medir 1,50 metro quando adultas, são abundantes em áreas costeiras com muita vegetação, especialmente nos oceanos Índico e Atlântico.

Das sete espécies actualmente existentes no mundo, cinco utilizam as praias moçambicanas para nidificação, nomeadamente, a tartaruga cabeçuda (de nome cientifico Caretta caretta), tartaruga verde (Chelonia mydas), tartaruga coriácea (Dermochelys coriacea), tartaruga bico-de-falcão (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga olivácea (Lepidochelys olivacea).

Alguns estudos feitos no país dão conta de matanças de tartarugas marinhas por arrasto para praia com uso de tratores, mas há igualmente registo de casos de condução de veículos todo o terreno, sobretudo, nas praias da zona sul do país, o que contribui para a mortalidade de tartarugas em Moçambique.

Tradicionalmente, as comunidades costeiras moçambicanas não só usam a carne e ovos das tartarugas marinhas para alimentação, também os pescadores utilizam o óleo cru da tartaruga coriácea para pintar barcos e os curandeiros e médicos tradicionais aproveitam partes das carapaças nas suas práticas de medicina tradicional.

“Há um discurso de certa forma paternalista, segundo a qual é uma questão de sobrevivência dos pescadores, mas isso não é uma questão de sobrevivência “, até porque, “por enquanto, não falta comida e há de tudo: peixe, lulas, lagostas, camarão”, considerou Carlos Serra.

Por isso, defendeu, “tem que haver muito trabalho de educação junto dos pescadores e dos circuitos de comércio. É preciso educar no sentido de respeitar a tartaruga. O pescador tem que ser o maior protetor da fauna marinha. A fiscalização deve ocorrer na protecção de santuários”.

/Lusa

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