O antigo observador do Sporting José Laranjeira disse hoje que, durante a fuga, o treinador Jorge Jesus tentou agarrar elementos que invadiram a academia de Alcochete, acrescentando que Bas Dost era o único jogador com “ferimentos visíveis”.
O ‘olheiro’, que trabalhava no Sporting desde a época 2013/2014, à data treinado por Leonardo Jardim, mas que atualmente se encontra no Rio Ave, foi ouvido na manhã de hoje como testemunha na 13.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o ex-presidente do clube Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
A testemunha contou ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Reis, que estava no corredor do edifício da ala profissional aquando da invasão, não tendo visto o que se passou no interior do balneário.
José Laranjeira afirmou que “o único ferimento visível” era o do holandês Bas Dost, a sangrar da cabeça, quando ainda não tinha sido tratado.
Já no exterior do edifício, mas ainda no interior da academia, o observador relatou ter visto o “mister Jorge Jesus atrás” dos elementos, quando estes já estavam em fuga.
“[O mister Jorge Jesus disse] Agarrem este, agarrem aquele. Queria agarrar um indivíduo, mas não sei quem é. Nem sei se o chegaram a agredir [Jorge Jesus]. Há um indivíduo que passa por ele a correr, mas não sei se o agride ou tenta agredir”, explicou a testemunha.
Poucos minutos depois, acrescentou, viu “três a quatro indivíduos” a falar com Jorge Jesus e com o jogador William Carvalho, numa conversa “pacífica”, durante a qual estariam a pedir “justificações e explicações” a esses elementos, entre os quais estava o antigo presidente da claque Juventude Leonina Fernando Mendes, que a testemunha, naquele momento, não sabia quem era.
Nessa conversa, esses elementos disseram ao então treinador do Sporting que “não estavam à espera daquilo, que chegaram mais tarde e que tinham ido à academia para falar com o plantel”.
José Laranjeira revelou não ter sido agredido nem ameaçado, sublinhando que os invasores disseram para que os elementos do ‘scouting’ (prospeção) não se metessem, pois não era nada com eles.
Após o ataque, a testemunha foi ao balneário, descrevendo um cenário de “muita confusão fora do normal e com lixo e equipamentos pelo chão”.
José Laranjeira esteve presente na reunião de 14 de maio de 2018, véspera do ataque, entre o staff com o então presidente do clube Bruno de Carvalho, com André Geraldes e com mais elementos do conselho de administração, que não soube identificar.
Nessa reunião, o observador reiterou o que outras testemunhas já contaram em tribunal, que Bruno de Carvalho lhes perguntou quem é que estava com aquela direção, e que, quem não estivesse, que o assumisse logo ali.
O antigo funcionário do Sporting acrescentou que o antigo presidente do Sporting não apresentou um motivo para esta conversa, mas deduziu que se tratasse do “iminente despedimento” do treinador Jorge Jesus.
Bruno de Carvalho disse ainda que no dia seguinte (dia do ataque) se encontrariam todos na academia.
O julgamento prossegue durante a tarde de hoje com as inquirições do jogador João Palhinha, atualmente emprestado ao Sporting de Braga, e de Gonçalo Rodrigues, funcionário do Sporting, à data dos factos responsável pelo gabinete de apoio ao atleta.
// Lusa