Ouvir a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior (K448), de Wolfgang Amadeus Mozart, durante pelo menos 30 segundos, ajuda a reduzir a atividade elétrica cerebral associada à epilepsia resistente a medicação.
Os resultados também sugerem que as respostas emocionais positivas à K448 podem contribuir para os seus efeitos terapêuticos. As conclusões são de um novo estudo publicado na revista Scientific Reports.
Um estudo anterior já mencionava as qualidades terapêuticos desta sonata, mas não se sabia o impacto da duração da música e as razões que justificam este fenómeno, escreve o Medical Xpress.
Em 1993, investigadores já tinham relatado que depois de estudantes universitários ouvirem esta sonata de Mozart durante dez minutos, eles mostraram melhores habilidade de raciocínio espacial do que depois de ouvir instruções de relaxamento destinadas a baixar a tensão arterial.
O QI destes estudantes também aumentou em oito ou nove pontos. Isto ficou conhecido como o “Efeito Mozart”.
Agora, uma equipa de investigadores analisou a hipótese de que ouvir a K448 por apenas 30 segundos poderia ativar redes neurais associadas a respostas emocionais positivas à música.
A obra foi composta por Mozart em 1781, quando ele tinha 25 anos. É escrita em forma de sonata-allegro, com três movimentos. A K448 foi composta para um espetáculo onde Mozart ia atuar juntamente com a pianista Josepha Auernhammer. É uma das suas poucas composições escritas para dois pianos.
Nos 16 pacientes do estudo, os picos de atividade elétrica caíram dois terços em todo o cérebro, mas baixaram mais nos córtices frontais esquerdo e direito, onde as respostas emocionais são reguladas.
A epilepsia refratária é conhecida por ser resistente à medicação. Em Portugal, embora não existam dados concretos sobre a sua incidência, estima-se que a epilepsia afete entre 20 a 90 mil pessoas. Destas, cerca de um terço desenvolve um quadro de doença refratária. Isto significa que, independentemente de estarem medicadas nunca vão deixar de ter crises, explica o Atlas da Saúde.
Apesar dos resultados serem encorajadores, o autor principal do estudo, Robert Quon, diz que a sua equipa mantém um “ceticismo saudável”.
“Tocamos essencialmente nove estímulos musicais diferentes. Um deles foi Mozart. Testamos músicas de diferentes géneros e, de seguida, os pacientes selecionaram a música de que mais gostaram”, explicou ao portal STAT.
Entre as escolhas musicais estão ainda Wagner, Buddy Holly, Judas Priest e Nickelback.
“Estávamos realmente à espera que uma dessas peças preferidas, quando modulamos as frequências, resultasse em efeitos terapêuticos significativos. Mas, infelizmente, apenas a composição original de Mozart apresentou uma resposta significativa. Isso levou-nos a investigar mais a fundo quais propriedades podem ser responsáveis por isso”, acrescentou Quon.
Mas, afinal, o que há de especial com a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior, de Mozart?
“Quando as pessoas desenvolvem expectativas sobre uma peça musical e quando as expectativas são repentinamente violadas — você tem a mesma batida ou ritmo na música e, de seguida, uma violação repentina dessa expectativa no seu cérebro — isso está associado a respostas emocionais positivas”, começou por explicar o investigador.
“Usamos uma técnica de machine learning e uma técnica de recuperação de informação musical para desconstruir esta música em segmentos. E previmos que as transições desses segmentos mais longos estariam correlacionadas com maior poder nas redes emocionais do cérebro. E isso é exatamente o que descobrimos com a nossa análise”, prosseguiu.
Ainda assim, até ao momento, as propriedades específicas que impulsionam o “Efeito Mozart” permanecem desconhecidas.