Somos todos mestres da música e nem sabemos

Tiago Canhoto / Lusa

Por vezes ficamos em êxtase quando acertamos com a batida de uma música… mas não achemos já que temos uma inteligência musical fora do comum. Todas as pessoas têm duas redes cerebrais para antecipar e identificar transições de uma música.

Um estudo publicado esta segunda-feira, no Proceedings of the National Academy of Sciences, explica como é que o nosso cérebro sabe quando é que uma música vai entrar no drop (batida).

Os investigadores da Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, descobriram que o cérebro passa por dois processos-chave para antecipar e identificar as transições entre segmentos de uma música.

Afinal, todos nascemos “mestres” em música e não sabíamos.

As fronteiras musicais – momentos em que uma secção termina e outra começa – são cruciais para sabermos apreciar uma música.

Sem estas fronteiras, uma peça musical soaria como uma sequência monótona de sons, “semelhante à leitura de um texto sem pontuação”, como refere a líder da investigação, Iballa Burunat, citada pela New Scientist.

Dois processos-chave

O estudo analisou a atividade cerebral de 36 adultos enquanto ouviam três obras musicais de géneros diferentes. Descobriu-se que, antes de uma fronteira musical, uma “rede auditiva precoce” é ativada.

Esse primeiro processo envolve áreas auditivas na parte posterior do córtex.

Depois, durante e após uma determinada transição musical, entra em ação uma “rede de transição de limites”, com maior atividade nas áreas auditivas do meio e da frente do córtex.

Esta última mudança na atividade cerebral é semelhante à forma como compreendemos as diferenças entre frases na linguagem.

Há mestres e mestres…

No título e no início do artigo escreve-se que “somos todos mestres da música”; mas não é bem assim. Evidentemente, há mestres mais mestres do que outros.

O presente estudo também pôde concluir que a resposta cerebral varia entre músicos e não-músicos.

Os músicos ativam áreas cerebrais ligadas ao processamento auditivo com um nível superior, refletindo uma abordagem mais especializada na compreensão das fronteiras musicais.

Já os não-músicos, por outro lado, mostraram maior conectividade em regiões cerebrais mais amplas, sugerindo uma abordagem mais generalizada.

Como diz Iballa Burunat, citada pela New Scientist, além deste estudo esclarecer melhor a forma como o cérebro processa a música, estes resultados podem também ajudar a desenvolver terapias baseadas na música para pessoas que têm dificuldades em compreender a linguagem.

“A incorporação de elementos de fronteiras musicais nas transições linguísticas – talvez através da colocação de sílabas numa melodia – pode tornar as frases mais fáceis de compreender”, explica-se.

ZAP //

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