O nosso Sistema Solar viajou por uma enorme onda galáctica (descoberta por um português)

Alyssa Goodman / Harvard University

A passagem do nosso Sistema Solar pela Onda de Radcliffe pode ser a responsável pela Perturbação do Miocénico Médio.

O Sistema Solar passou pelo complexo de formação estelar de Orion há cerca de 14 milhões de anos. Assim revela uma investigação publicada em fevereiro na Astronomy and Astrophysics, com um autor português.

O complexo de Orion está inserido numa grande estrutura, chamada Onda de Radcliffe (RW). Esta tem um comprimento de quase 9000 anos-luz e contém muitas regiões de formação de estrelas, explica a Universe Today.

“À medida que o nosso Sistema Solar orbita a Via Láctea, encontra diferentes ambientes galácticos com densidades interestelares variáveis, incluindo vazios quentes, frentes de onda de explosões de supernovas (SN) e nuvens de gás frio”, escreveram os autores do estudo.

Os investigadores explica, que a passagem do Sistema Solar pela Onda Radcliffe e pelo complexo de Orion pode ser responsável pela Perturbação do Miocénico Médio (MMD), que aconteceu há cerca de 14,8-14,5 milhões de anos e coincidiu com uma vaga de extinções de vida terrestre e aquática.

“Imagine-o como um navio a navegar em condições variáveis no mar”, explica o autor principal Efrem Maconi num comunicado. “O nosso Sol encontrou uma região de maior densidade de gás quando passou pela Onda de Radcliffe na constelação de Orion”.

“O nosso intervalo de tempo estimado para a localização potencial do Sistema Solar numa região densa de ISM (cerca de 14,8-12,4 Myr atrás para uma distância de 20-30 pc do centro de uma nuvem de gás) sobrepõe-se à transição climática do Mioceno Médio”, escrevem os investigadores.

“Esta descoberta baseia-se no nosso trabalho anterior de identificação da Onda de Radcliffe”, afirma o português João Alves, professor de astrofísica na Universidade de Viena e coautor do estudo. Alves foi o autor principal do artigo de 2020 que apresentou a descoberta da própria RW.

A investigação foi realizada com base em dados da missão Gaia, da ESA. “Somos habitantes da Via Láctea”, diz João Alves. “A Missão Gaia da Agência Espacial Europeia deu-nos os meios para traçar o nosso percurso recente no mar interestelar da Via Láctea, permitindo aos astrónomos comparar notas com geólogos e paleoclimatologistas. É muito emocionante”.

ZAP //

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