Será que é seguro ter filhos no Espaço?

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Podem os humanos reproduzir-se no Espaço? A resposta curta é que não sabemos. A resposta longa é talvez, mas existem barreiras significativas até se tornar a gravidez em gravidade zero segura, e a pesquisa sobre o assunto está apenas a começar.

O Espaço é um lugar perigoso. Astronautas em condições físicas de pico muitas vezes voltam para casa depois de longas estadias no Espaço fracos, com os músculos atrofiados e os olhos danificados. Muitos desses efeitos são reversíveis, mas alguns não são, como as doses de radiação solar que recebem e que podem causar cancro mais tarde na vida.

Uma parte significativa das experiências na Estação Espacial Internacional foi projetada para avançar a ciência médica e mitigar o pior desses problemas. Mas há mais a aprender e, quando se trata de gravidez, sabemos muito pouco.

O que sabemos é que o perigo real para o desenvolvimento do embrião humano não é a radiação: é a gravidade. Ou melhor, a falta dela. No início do processo, quando as células se começam a dividir e crescer, o crescimento pode ocorrer mais rapidamente numa extremidade do embrião do que na outra, e há alguma evidências de que a gravidade desempenha um papel nessa assimetria.

Mais tarde, a gravidade ajuda a garantir que o corpo se forma corretamente, com as células orientadas adequadamente e nos lugares certos. Não está claro o que aconteceria com o desenvolvimento do embrião humano na microgravidade.

Testes em animais

Tal como noutras áreas da Medicina, os testes com animais podem ajudar os cientistas a entender os processos em funcionamento sem arriscar a vida humana. Os primeiros testes, que remontam aos dias do programa Gemini, foram realizados com ovos de rã. Os investigadores não encontraram anomalias na divisão celular – um bom sinal.

Cientistas soviéticos tentaram testes de fertilização em peixes, mas tiveram dificuldades para fazê-los acasalar — foi só com o voo espacial em 1994 que tiveram sucesso com a eclosão de peixes no Espaço e, mesmo assim, apenas espécies específicas pareciam adaptar-se bem à microgravidade.

Pesquisas adicionais na década de 1990 descobriram que 81% dos tritões embrionários nascidos no Espaço desenvolveram malformações do tubo neural – mas isso foi reduzido para 23% quando os tritões foram colocados numa centrífuga, criando gravidade artificial a 1G.

Aves e lagartixas também foram estudados, mas se realmente queremos entender o desenvolvimento humano no Espaço, precisamos de estudar os mamíferos.

Ninhadas de ratos e ratinhos jovens estudados em microgravidade oferecem boas e más notícias. A boa notícia é que muitos ratos e ratinhos perfeitamente saudáveis ​​sobreviveram aos seus voos espaciais e depois adaptaram-se à vida na Terra sem problemas. Defeitos temidos – mudanças que poderiam durar gerações – não se concretizaram.

A má notícia é que algumas ninhadas mostraram efeitos nocivos, mas ainda não se sabe se a causa foi microgravidade, ou cuidados maternos precários, já que a mãe se comportou de maneira diferente na microgravidade e não se conseguiu relacionar com a prole como faria na Terra. Essa falta de cuidado parental poderia explicar os defeitos tão facilmente quanto a falta de gravidade. São precisas mais pesquisas.

Duas soluções possíveis

O desenvolvimento humano depende até certo ponto das células estaminais embrionárias: células versáteis que podem desenvolver-se em qualquer tipo de célula que o corpo precise. Infelizmente, há algumas evidências de que esse processo pode ser dificultado no Espaço. Isso é uma má notícia para a perspectiva de gravidez no espaço.

Também nessa frente, no entanto, nem tudo são más notícias. As células-tronco de tecidos adultos – frequentemente usadas em tratamentos para doenças degenerativas – na verdade parecem crescer mais rápido na microgravidade, potencialmente permitindo uma melhor disponibilidade desses tratamentos para quem precisa.

A longo prazo, para que a reprodução e a gravidez no Espaço sejam seguras, são necessários avanços de duas formas: podemos atacar o problema do ponto de vista da engenharia e desenvolver habitats espaciais giratórios que imitam 1G com gravidade artificial; ou, do ponto de vista médico, podemos encontrar maneiras de ajudar o desenvolvimento do embrião no nível celular, talvez por meio de tratamentos com medicamentos.

Por enquanto, o poço gravitacional da Terra (e talvez outros poços gravitacionais, como Marte), são os refúgios mais seguros para gravidez e parto. Sair do berço proverbial não será uma questão trivial. Neste caso, a ‘Mãe Terra’ é uma personificação adequada do nosso planeta, pois é somente aqui que os nossos sistemas reprodutivos evoluíram para funcionar, e levar a nossa biologia além dela exigirá uma adaptação criativa, tanto tecnológica quanto médica, para haver uma esperança de sucesso.

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