Saara Ocidental declara fim de cessar-fogo de quase 30 anos com o Marrocos

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O líder do movimento de independência do Saara Ocidental, Brahim Ghali, e o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa

O líder do movimento de independência do Saara Ocidental, Brahim Ghali, prometeu encerrar um cessar-fogo de 29 anos com o Marrocos, classificando as recentes operações na fronteira marroquina como uma provocação.

O líder da Frente Polisário de Independência anunciou que o grupo não vai mais cumprir o compromisso de uma trégua que mantém há quase três décadas, avançou no sábado a agência de notícias do grupo, Sahara Press Service, citada pela CNN.

Marrocos, que afirma continuar a apoiar o cessar-fogo, anunciou na semana passada que retomaria as operações militares na passagem de El Guergarat, uma zona-tampão entre o território reivindicado pelo Estado de Marrocos e pela auto-proclamada República Árabe Democrática Sahrawi.

Ao lançar a operação, Marrocos “minou seriamente não apenas o cessar-fogo e os acordos militares relacionados, mas também qualquer hipótese de alcançar uma solução pacífica e duradoura para a questão da descolonização do Saara Ocidental”, disse Ghali, numa carta endereçada à Organização das Nações Unidas (ONU).

O Saara Ocidental, há muito disputado, é controlado principalmente pelo estado marroquino, que ocupa cerca de 75% do território, segundo o CIA World Factbook. Marrocos e a Frente Polisário lutaram pela zona depois que a Espanha desistiu do governo, em 1976, e a Mauritânia retirou a sua reivindicação de controle, em 1979. Depois de negociar uma trégua em 1991, a ONU reconheceu a área como “território não autónomo”.

O Ministério das Relações Externas de Marrocos referiu que a sua operação na fronteira visava “consolidar o cessar-fogo” em resposta à Frente Polisário, que supostamente bloqueava o movimento de pessoas e mercadorias e assediava as tropas da ONU.

A ONU negou que as suas tropas tenham sido perseguidas. “A MINURSO [Missão das Nações Unidas para o referendo no Saara Ocidental] envolveu-se pacificamente em Guergerat com os manifestantes apoiados pela Frente Polisário e com o exército marroquino com o objetivo de reduzir as tensões, desde o início das manifestações de 21 de outubro”, disse em comunicado o porta-voz da ONU, Nick Birnback.

No sábado, a Sahara Press Service revelou que a Frente Polisário também lançou ataques contra o Exército Real Marroquino no Saara Ocidental, “causando perda de vidas e equipamentos e interrompendo os seus planos militares.” O governo marroquino ainda não se pronunciou sobre essas alegações.

A ONU, que mantém uma missão de manutenção da paz no Saara Ocidental, indicou que fez tentativas para convencer todas as partes a evitar uma escalada das hostilidades e preservar o cessar-fogo, sem sucesso.

“O Secretário-Geral continua empenhado em fazer o possível para evitar o colapso do cessar-fogo, que está em vigor desde 06 de setembro de 1991, e está determinado em remover todos os obstáculos à retomada do processo político”, indicou em comunicado Stéphane Dujarric , porta-voz do secretário-geral da ONU.

Ao longo dos anos, mais de 100 mil pessoas da área tornaram-se refugiados devido ao conflito, de acordo com um relatório da Segurança Global.

ZAP //

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