A resposta à Rússia tem ajudado a popularidade de Biden — mas pode não chegar para uma vitória nas intercalares

Yuri Gripas / EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

A popularidade do Presidente norte-americano tem aumentado ligeiramente nas últimas semanas, com os cidadãos a aprovarem a sua resposta ao conflito na Ucrânia. No entanto, a inflação é a principal prioridade e esta recuperação de Biden ainda não chega para uma vitória Democrata nas intercalares.

O primeiro ano de Joe Biden à frente dos destinos dos Estados Unidos não foi dos melhores. Entre a pandemia, a inflação, a retirada caótica das tropas do Afeganistão e os sucessivos impasses das suas propostas de lei no Congresso, o chefe de Estado norte-americano tem vindo a falhar no objectivo de satisfazer os cidadãos.

As sondagens nos últimos meses têm mostrado que mais americanos desaprovam do que aprovam o trabalho de Biden e que este chegou até a ser o segundo chefe de Estado mais impopular, atrás apenas do seu antecessor, Donald Trump.

As médias dos agregadores de sondagens FiveThirtyEight e RealClearPolitics mostram que apenas 42,8% e 42,1% dos inquiridos, respectivamente, têm uma opinião favorável em relação a Biden.

Se a crise no Afeganistão foi um grande golpe na imagem do Presidente a nível da política externa, a resposta de Biden à guerra na Ucrânia está a ser melhor recebida e pode dar-lhe o impulso de que os Democratas precisam para terem um bom resultado nas intercalares, que por agora, parecem favas contadas para os Republicanos.

Um sondagem da Yahoo News e da YouGov levada a cabo entre 10 e 14 de Março notou uma subida de 7% entre os inquiridos que consideram que Biden está a liderar melhor o seu país do que Putin, passando de 33% para 40%.

Os Democratas que defendem a resposta de Biden subiram de 68% para 80% e a preferência dos Republicanos por Putin caiu de 36% para 19%, tendo também subido o número de Republicanos que são indiferentes entre os dois líderes, passando de 46% para 63%.

Já os Independentes, um eleitorado que costuma decidir eleições e que varia entre os 7% e 14%, passaram de uma divisão a meio (com 22% para o lado de Putin e 21% do lado de Biden) para uma escolha clara a favor do ocupante da Casa Branca, com 33% apoiar Biden e apenas 10% a preferir Putin.

No geral, mais americanos acreditam que a resposta de Biden tem sido “razoável” (31%) e 34% defendem que o Presidente deve ser mais duro. Já 6% acreditam que a reacção de Biden tem sido exagerada.

Apenas 39% aprovam da acção de Joe Biden, uma subida de apenas cinco pontos em relação à sondagem de há duas semanas, e 48% continuam a desaprovar. Apesar da aprovação dos Independentes ter subido 10 pontos, continua apenas nos 38% e 44% continua a não preferir nem Putin nem Biden. No entanto, dado o clima polarizado na política norte-americana, estes ganhos não devem ser ignorados.

Cerca de 43% dos inquiridos também apoiam a decisão de Biden de não criar uma zona de exclusão aérea quando lhes é explicado o que isto implicaria — levaria a que os EUA abatessem aviões russos que sobrevoassem a Ucrânia, o que podia causar uma guerra entre Moscovo e Washington —, com apenas 23% discordar do Presidente e 34% de indecisos.

Há ainda mais 3% de americanos que concordam com a decisão da administração de não enviar tropas para a Ucrânia, sendo agora 59%. A maioria também está do lado de Biden em algumas das escolhas que tem feito, como a imposição de sanções à Rússia (65%), o envio de armas para a Ucrânia (61%) ou a expulsão da Rússia da Organização Mundial do Comércio (58%).

Recuperação de Biden não é suficiente

Esta trajectória pode ser a chave para que Biden volte às boas graças dos norte-americanos e os próprios Republicanos podem vir a ser úteis nesta batalha política interna, já que a sua proximidade a Putin tem sido escrutinada.

Também Donald Trump — que continua a ser uma figura central no partido — já expressou no passado a sua admiração pelo Presidente russo, para além das polémicas investigações às tentativas de interferência do Kremlin nos resultados das eleições presidenciais de 2016, que podem levar a que alguns eleitores associem uma vitória Republicana a uma vitória indirecta de Putin.

A própria aparição constante de Donald Trump na imprensa pode também ser prejudicial aos Republicanos, com a investigação à invasão ao Capitólio ainda a decorrer. Trump é tão practicamente tão impopular entre os eleitores Independentes como Joe Biden.

A estratégia dos Democratas para as intercalares de Novembro pode passar por uma aposta nos temas em que os Republicanos são menos populares, como por exemplo, o direito ao aborto.

Mesmo com a maioria conservadora no Supremo — que está prestes a tomar uma decisão que pode efectivamente reverter o direito federal à interrupção voluntária da gravidez — e com os estados Republicanos a impor limites ao aborto, uma sondagem de Janeiro da CNN concluiu que quase três quartos dos Independentes defende que este direito deve permanecer legal.

Recentemente, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou os pedidos dos Republicanos da Carolina do Norte e da Pensilvânia, que queriam reverter os novos mapas eleitorais que acabavam com a prática de gerrymandering e tornavam as eleições mais competitivas, algo que também vai beneficiar politicamente os Democratas — apesar desta decisão ser, muito provavelmente, limitada a estas intercalares.

No entanto, estes bons sinais podem não ser suficientes para garantirem uma vitória azul no Congresso. Uma tendência que é practicamente uma garantia na política norte-americana é de que o partido do Presidente perde lugares nas intercalares.

De momento, o Senado está com 50 lugares para cada lado e apenas é controlado pelos Democratas graças ao voto de desempate de Kamala Harris. Do lado da Câmara dos Representantes, os Democratas têm uma maioria pequena que podem facilmente perder em Novembro, tendo 222 lugares contra 211 dos Republicanos.

Mesmo com a maior aprovação da resposta de Biden ao conflito na Ucrânia, a economia continua a ser a principal preocupação dos eleitores. De acordo com uma sondagem do Wall Street Journal, 50% dos inquiridos considera que a inflação é a sua maior prioridade, seguindo-se a guerra na Europa, com 25%.

O inquérito concluiu que 63% dos eleitores não aprova a resposta da Casa Branca à subida dos preços e 47% acreditam que os Republicanos fariam um melhor trabalho neste aspecto do que os Democratas. 71% dos Independentes também acreditam que a trajectória da economia é errada.

É ainda provável que os Republicanos que têm apreciado mais a resposta de Biden à guerra não fiquem convencidos o suficiente para votarem num Democrata nas eleições intercalares. A maior questão é se algum evento no futuro vai ser suficiente para mudar a tendência desfavorável aos Democratas.

Adriana Peixoto, ZAP //

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