“Em festas de anos dos professores, as garrafas de álcool nem deixavam espaço para a comida na mesa” – mas agora há muitas aldeias onde nem sequer se vende álcool.
A ideia é clara: estilo de vida saudável, viver mais tempo, álcool mais longe; as crianças não vêem álcool, não sabem o que é isso, nunca viram pessoas bêbadas.
Há diversas aldeias russas que proibiram completamente a venda de álcool, nomeadamente em Yakutia, a maior república na Rússia.
O Komsomolskaya Pravda foi espreitar as aldeias para contrariar o estereótipo de que se encontra sempre um celeiro a cair aos pedaços, um porco sujo e um homem embriagado a desmontar uma mota velha, ou a dormir num banco.
O celeiro ainda pode aparecer, o porco também – mas é menos provável encontrar o homem embriagado. É que 205 aldeias em Yakutia abandonaram completamente o álcool.
Em Khangalassky, das 31 localidades, o álcool é vendido em apenas três. As lojas fecharam, uma após a outra.
As restrições à venda de álcool na área arrancaram em 2019. Mas os comerciantes estão protegidos por lei – não se pode obrigar uma loja a fechar.
Mas é proibido vender álcool a menos de 50 metros dos equipamentos sociais, como farmácias, escolas, bibliotecas.
Assim que a licença atual de 5 anos expira, o ponto de venda de bebidas alcoólicas desaparece do mapa da aldeia.
Em Maya, a idosa Lena lembra-se de como era a vida lá há umas décadas. E era mesmo diferente: “As crianças de hoje não fazem ideia de como vivíamos! Tudo escuro, lâmpadas partidas, a vedação de madeira arrancada. Ninguém andava sozinho. Os pais tinham medo que os vândalos da escola os espancassem”.
E, precisamente sobre o álcool: “Nas festas de aniversário dos professores da escola não havia lugar para colocar comida na mesa – por causa das garrafas!”.
O pior era que as mulheres bebiam até à morte e matavam acidentalmente os próprios filhos. E os homens bêbados congelavam na neve; morriam congelados. Houve esfaqueamentos, e não foram encontradas testemunhas na aldeia; as pessoas recusaram-se a cooperar com a polícia.
Agora os locais preferem o cross-country, jogar hóquei no gelo e é promovido um estilo de vida saudável. Até há dinheiro (cerca de 500 euros) para um jovem que não beba álcool no dia do casamento.
Em Zhabylsky, um em cada sete residentes era bêbado; em 16 condutores de tratores, 15 bebiam. Mas agora não vendem álcool naquela aldeia há 25 anos.
Em Khataryk, as crianças contaram que não sabem o que pensar quando vêem uma pessoa bêbada – porque a maioria nunca viu uma pessoa bêbada.
Em Namtsy, o álcool não foi proibido. Mas a regra é clara: as lojas de bebidas alcoólicas devem estar localizadas a 3 km (!) de instalações sociais. No mínimo.
Os mais velhos recordam como o vinho tinto da Geórgia aparecia em barris de madeira: doce, fácil de beber e rapidamente inebriante. Naquela altura, ninguém achava mal – mas morria-se mais cedo.
E morria-se sobretudo por congelamento: um habitante de Yakutia está habituado ao frio; só congela quando está bêbado. E começaram a aparecer muitos homens congelados.
Quando começaram a ser estabelecidas regras para controlar a venda de álcool, metade das lojas fecharam e a esperança de vida dos homens locais aumentou rapidamente 2 anos.
Nas aldeias onde se deixou de beber, as taxas de criminalidade diminuíram e as pessoas começaram a gastar mais em reparações e construção de casas. E muito mais frequentemente respondem aos sociólogos que… são felizes.
Mas, como avisa o artigo, a recusa em beber álcool ainda não é uma regra generalizada na Rússia. Há cada vez mais aldeias sóbrias, mas a “limpeza” ainda não chegou a muitos lados.