Rússia apoia candidata de Leste à ONU

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Kristalina Georgieva, comissária europeia para o Orçamento e Recursos Humanos

Kristalina Georgieva, comissária europeia para o Orçamento e Recursos Humanos

A Rússia afirmou esta segunda-feira que gostaria de ver uma mulher no cargo de secretário-geral da ONU e anunciou que irá apoiar um candidato da Europa de Leste, dias depois da búlgara Kristalina Georgieva entrar na corrida.

“Acreditamos que é a vez da Europa do Leste de fornecer o próximo secretário-geral. Gostaríamos muito de ver uma mulher”, disse o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin, em conferência de imprensa.

O embaixador disse ainda que deverá haver em breve um voto formal para decidir sobre o sucessor de Ban Ki-moon.

A Rússia ocupa este mês a presidência do Conselho de Segurança da ONU e é um dos seus membros permanentes, os quais têm poder de veto em relação aos candidatos a secretário-geral.

Na semana passada a Bulgária substituiu o seu candidato ao cargo, apresentando Kristalina Georgieva, que passou pelo Banco Mundial e está agora na Comissão Europeia.

A economista búlgara respondeu na segunda-feira a duas horas de perguntas de todo o tipo, incluindo a guerra na Síria, a crise dos refugiados e as alterações climáticas, perante a Assembleia Geral da ONU.

O embaixador russo nas Nações Unidas indicou haver uma “boa possibilidade de poucos dias após” a votação informal de quarta-feira, o conselho votar formalmente para escolher o nome que será depois apresentado à Assembleia Geral para aprovação.

Georgieva seria a primeira mulher a liderar a ONU. A búlgara de 63 anos enfrenta outros nove candidatos, incluindo o ex-primeiro-ministro português António Guterres, considerado o favorito, já que venceu todas as cinco votações informais do Conselho de Segurança realizadas até agora.

“Absolutamente normal”, diz Governo

O ministro dos Negócios Estrangeiros português disse hoje ver como “absolutamente normal” o apoio da Rússia a uma candidata da Europa do Leste às Nações Unidas, reiterando o “mérito” de António Guterres, também na corrida.

Em declarações à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse ver a declaração do embaixador russo nas Nações Unidas como “absolutamente normal”.

O governante comentou que a Rússia “sempre disse que a sua primeira escolha era de uma candidatura da Europa de Leste”, um dado que é “conhecido há muito”.

“Também notamos a posição russa segundo a qual as qualidades da candidatura do engenheiro António Guterres são conhecidas e são óbvias”, sublinhou.

Na declaração feita nas últimas horas por Moscovo, foi acrescentada a referência ao género, “uma preferência que a Rússia nunca tinha manifestado”, assinalou o ministro.

Dois dos requisitos mais apontados para o próximo secretário-geral são a preferência por uma mulher – posição manifestada pelo próprio Ban Ki-moon – e uma candidatura da Europa do Leste, numa lógica de rotatividade geográfica.

Nova fase esta quarta-feira

A corrida ao cargo de secretário-geral da ONU entra numa nova fase na quarta-feira, com uma nova votação no Conselho de Segurança sobre os agora dez candidatos ao cargo de secretário-geral.

Os membros permanentes – Reino Unido, França, China, Rússia e Estados Unidos – vão usar boletins de voto coloridos para indicar se os candidatos vão enfrentar um veto quando o conselho efetuar uma votação formal.

Nas cinco votações informais já realizadas – em que não participou Kristalina Georgieva – o ex-primeiro-ministro português António Guterres ficou sempre à frente e obteve, nas duas últimas, 12 votos de encorajamento, mais do que os nove votos necessários para ser recomendado à Assembleia-Geral, mas ainda com dois votos de desencorajamento.

Questionado sobre as expectativas do Governo português sobre a votação de quarta-feira, Santos Silva reiterou que o executivo encara “com serenidade o desenvolvimento deste processo”.

“Fizemos o que era nosso dever: tendo um candidato com a qualidade do engenheiro António Guterres, era nosso dever apresentar a candidatura ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Apresentámos a candidatura em devido tempo, o engenheiro António Guterres apresentou as suas ideias, foi ouvido pela Assembleia-Geral, participou nos debates, participou em todas as votações e em todas teve os melhores resultados”, sustentou Santos Silva.

Instado a comentar a audição de Georgieva, que decorreu esta segunda-feira ao longo de duas horas, o ministro português afirmou apenas: “Saudamos todos os candidatos e candidatas, porque a qualidade das candidaturas até agora apresentadas só reforça o mérito do engenheiro António Guterres“.

O novo secretário-geral da ONU deve iniciar funções a 1 de janeiro.

ZAP / Lusa

1 Comment

  1. São os interesses a funcionar.
    Para mim, entrar numa “corrida” passando por cima de etapas que deveria ter cumprido tal como outros concorrentes, é viciar as regras. Não me parece crível que, em nome da transparência e respeito que candidatos e instituição merecem, situações destas possam ser permitidas.

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