Cientistas descobriram que, apesar de parecer uma experiência mais desconfortável, transportar rinocerontes de cabeça para baixo é mesmo a melhor opção quando se trata de salvaguardar a sua saúde.
Esta fotografia de um rinoceronte de pernas para o ar, suspenso por uma corda enquanto é transportado por um helicóptero, tem tanto de cómico como de surreal. Mas, segundo a cadeia televisiva CNN, trata-se, na verdade, de uma questão de sobrevivência.
Quando é preciso transportar um rinoceronte na savana africana, a maioria das vezes recorre-se a camiões. No entanto, alguns locais são tão remotos que não têm acessos terrestres e, por isso, os conservacionistas começaram a usar helicópteros. Para cumprir a tarefa, os animais são colocados de lado e deitados numa maca, ou pendurados de cabeça para baixo, como vemos na imagem acima.
A segunda opção é mais rápida e fácil e tem menos custos, mas até agora não se sabia ao certo como é que esta posição invertida afeta os rinocerontes. Por isso, conta a estação televisiva norte-americana, o Governo da Namíbia pediu ajuda à Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, para obter respostas.
Os resultados, publicados a 18 de janeiro na revista científica Journal of Wildlife Diseases, foram surpreendentes. “Achávamos que os rinocerontes passavam pior quando estavam pendurados de cabeça para baixo”, disse Robin Radcliffe, professor sénior da universidade nova-iorquina.
Embora pareça uma experiência mais desconfortável, a equipa descobriu que o transporte de pernas para o ar é mesmo a melhor opção quando se trata de salvaguardar a saúde destes rinocerontes.
Os investigadores mediram biomarcadores ligados à respiração e ventilação e descobriram que os rinocerontes tinham níveis mais altos de oxigénio no sangue quando estavam de cabeça para baixo.
Radcliffe explicou que esta posição permite que a coluna se estique, o que ajuda a abrir as vias respiratórias. Além disso, a equipa descobriu que, quando deitados de lado, os rinocerontes têm um “espaço morto” maior, isto é, a quantidade de ar em cada respiração que não contribui com oxigénio para o corpo é maior.
A diferença entre as duas formas de transporte era pequena, porém, como o forte anestésico dado aos rinocerontes causa hipoxemia (baixos níveis de oxigénio no sangue), mesmo uma pequena melhoria pode fazer diferença no seu bem-estar.
“Mas porque é que os rinocerontes têm de ser transportados?”, pergunta.
O rinoceronte-negro é uma espécie de rinoceronte que vive em todo o continente africano, mas sobretudo em países como a Namíbia, África do Sul, Quénia e Zimbabué. Na década de 60, existiam mais de 100 mil espécimes, mas 30 anos de caça furtiva exterminaram 98% destes animais, conta a CNN.
Desde então, os esforços de conservação fizeram com que a população destes rinocerontes tenha mais do que duplicado, havendo agora cerca de 5.600 exemplares. Apesar disso, o rinoceronte-negro continua a estar em perigo.
Tal como explica Jacques Flamand, líder do projeto “Black Rhino Range Expansion”, da organização não governamental World Wildlife Fund (WWF), os rinocerontes são uma espécie muito “dependente da densidade”, o que significa que, se houver muitos numa determinada área, o seu número acabará por diminuir.
Ao mesmo tempo, mover estes animais também ajuda a garantir uma população geneticamente mais diversificada. “Não queremos que um rinoceronte-negro acasale com a sua filha ou com a sua mãe”, disse.
Também por causa dos caçadores ilegais, em alguns casos há rinocerontes que são resgatados de focos de caça furtiva e transferidos para áreas onde podem ser controlados e protegidos.