Retirar a desinformação da internet pode não ser a melhor forma de a combater, sugere estudo

Investigadores reconhecem, ainda assim, que a tecnologia pode ter um papel preponderante na identificação do conteúdo e da respetiva origem.

A desinformação é um fenómeno cada vez mais estudado, apesar de muitos divergirem quanto à data do seu aparecimento e até aos métodos para a combater. A pandemia da covid-19 ou as eleições norte-americanas – e consequente invasão ao Capitólio – são dois eventos que levaram as empresas detentoras de redes sociais a implementar medidas para evitar a propagação de informação falsa, que pode ter consequências nefastas no plano individual ou coletivo, enquanto sociedade.

No entanto, um novo estudo da Royal Society do Reino Unido alega que eliminar a desinformação pode ser uma tática errónea, já que desvia as pessoas para áreas da internet mais difíceis de aceder. “Censurar ou remover conteúdos imprecisos, enganadores ou falsos não é uma cura milagrosa e pode minar o processo e a confiança do público”, pode ler-se no relatório intitulado “The Online Information Environment”.

No documento, a equipa de investigadores diz também que esta tática pode resultar quando o que está em causa é discurso de ódio, terrorismo ou abusos sexuais, no entanto, quanto à desinformação há poucas provas de que esta opção resulte de forma eficaz. Em vez disso, a equipa sugere que se aborde diretamente a temática da desinformação e a sua amplificação em contextos mais amplos. “A repressão de alegações fora consenso pode parecer desejável, mas pode dificultar o processo científico e forçar conteúdos genuinamente maus em áreas mais remotas“, aponta Frank Kelly, professor de matemática de sistemas na Universidade Cambridge.

O relatório em causa inclui um inquérito feito a cidadãos britânicos, o que concluiu que “a vasta maioria dos inquiridos” acreditam que as vacinas contra a covid-19 são seguras, que a atividade humana é responsável pelas alterações climáticas ou que a tecnologia 5G não é prejudicial – tópicos recorrentemente alvo de teorias da conspiração na internet. Ainda assim, também a maioria dos participantes apontou que através das suas pesquisas online melhorou os seus conhecimentos científicos, que é provável de verificar qualquer suspeita que tenham em relação a uma informação da qual tenham dúvidas e que se sente confiante em confrontar amigos ou familiares sobre visões erradas de tópicos científicos.

Os cientistas envolvidos na pesquisa também apontam que a existência de “câmaras de ressonância“, ou seja bolhas sociais em que as pessoas apenas comunicam com quem partilha das suas, é menos recorrente do que se poderia esperar ou assumir.

Apesar de o relatório afastar a hipótese da retira da desinformação da internet como um veículo para acabar com o fenómeno, este reconhece a importância que a tecnologia pode ter, sobretudo na tarefa de detetar conteúdo danoso e a sua origem. De facto, a chamada “tecnologia de melhoramento da proveniência” é considerada promissora e é expectável que no futuro se torne cada vez mais importante, à medida que o debate sobre a desinformação ganha dimensão.

O documento recomenda ainda às redes sociais que arranjem forma de permitir aos investigadores independentes acesso a dados, de maneira segura em linha com as regras de privacidade, para um tratamento mais transparente e independente da efetividade das medidas implementadas.

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