Restauro amador de esculturas centenárias volta a chocar Espanha

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J.L.Cereijido / EPA

As esculturas do século XI e XVI “restauradas” em Rañadoiro, nas Astúrias

Os restauros amadores polémicos já não são novidade em Espanha. Desta vez, as “vítimas” foram três esculturas religiosas do século XV e XVI.

“Não sou profissional, mas sempre gostei de restaurar. As esculturas estavam simplesmente horríveis e precisavam de um reparo, então pintei-as da melhor maneira possível, com as cores que pareciam as melhores e os vizinhos adoraram“.

Foi assim que María Luisa Menéndez, de Rañadoiro, nas Astúrias, justificou o porquê de ter “restaurado” uma escultura religiosa do século XV.

“Pedi permissão ao padre para levar as esculturas e pintá-las em minha casa”, disse a espanhola ao jornal espanhol El Comercio, citada pela BBC.

As esculturas, que estavam expostas numa igreja, datam dos séculos XV e XVI. A mais polémica, pintada com cores berrantes, retrata a Virgem Maria com o menino Jesus e Santa Ana; a outra Virgem Maria com o menino Jesus e, por fim, uma de São Pedro.

O secretário da Educação e Cultura das Astúrias, Genaro Alonso, afirmou à agência EFE que o resultado mais parecia “uma vingança do que um restauro”.

https://twitter.com/BuildingsPlaces/status/1038321081382330369

Segundo a emissora britânica, Luis Saro, um especialista que conhece bem a peça, diz não ser possível determinar neste momento se o restauro em questão poderá ser revertido.

“Isto já tinha acontecido antes com outra pessoa. As esculturas foram pintadas, mas tivemos sorte porque a cor original permaneceu quando a pintura foi removida”, disse ao jornal espanhol La Nueva España.

“Mas, neste caso, não se sabe se as peças vão poder voltar a ter a sua aparência original. Tudo depende do material usado, entre outros aspetos técnicos”, acrescentou Saro.

A Associação de Conservadores Restauradores de Espanha (ACRE) criticou a iniciativa de Menéndez e afirma que o recente episódio reflete a “a pilhagem contínua” do património nacional.

“Que tipo de sociedade permite passivamente que se destrua diante dos seus olhos o legado dos seus ancestrais?”, publicou a associação na sua conta do Twitter.

Este não é o primeiro caso de um “restauro” no país vizinho que causa polémica. Em junho deste ano, a Igreja de San Miguel de Estella, em Navarra, contratou um artesão local para “limpar” uma escultura de São Jorge do século XVI.

A escultura, que retrata São Jorge com uma armadura e a lutar contra um dragão em cima de um cavalo, foi transformada num homem de pele rosada e armadura colorida.

(dr) ArtUs Restauración Patrimonio

Escultura de São Jorge, na Igreja de San Miguel de Estella, em Navarra, antes e depois do restauro

No entanto, o caso mais famoso foi, sem dúvida, o de Ecce Homo, quando, em 2012, a pintura do século XIX que retrata Jesus foi ‘melhorada’ por Cecilia Giménez, uma octogenária cheia de boas intenções mas que não tinha qualquer experiência na área.

Durante cerca de 100 anos, a pintura permaneceu na Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, em Borja, e deteriorou-se devido à humidade. O resultado desastroso correu o mundo.

Apesar do mal-sucedido, vários especialistas afirmaram, na altura, que o quadro deveria ficar assim por representar “um ícone da cultura popular dos nossos tempos”.

(dr)

Ecce Homo, de Elías García Martínez, “restaurado” por Cecilia Giménez

ZAP // BBC

6 Comments

  1. Olha até ganharam vida vejam lá! Então o São Jorge ficou com umas cores muito saudáveis e catitas.
    Se precisarem de um colaborador venham pra cá que eu compro umas latas de tinta em spray (nos chineses que é mais barato) e dou uma uma ajudinha a animar essas obras velhas e empoeiradas.
    Primeiro é passar uma escova de aço pra tirar essas tintas velhas e enfadonhas e depois toca a esguichar cores vivas e bonitas..

  2. Parece que até dá para rir. Mas não dá.
    Trata-se de obra de cunho nitidamente popular, mas que merece respeito, até pela época em que foi talhada.
    O que aconteceu é crime de lesa-património.
    Crime que não deve ser unicamente imputado à “inocente” restauradora, mas sobretudo ao padre que a autorizou a provocar tal desonra.

    É caso para dizer que nem Jesus foi capaz de defender sua Mãe e sua Avó de tão vil afronta.

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