Há uma relação intrigante entre o cultivo do arroz e as diferentes sociedades humanas

Uma nova pesquisa confirma a “teoria da cultura do arroz” e conclui que as sociedades onde o cultivo é mais comum tendem a ser mais coletivistas.

Um novo estudo publicado na Nature Communications fornece provas convincentes que ligam o tipo de agricultura – especificamente a cultura do arroz versus a do trigo – a variações de traços culturais como o coletivismo e o individualismo.

A investigação, liderada por Thomas Talhelm, professor associado de ciências comportamentais na Booth School of Business da Universidade de Chicago, utiliza uma conceção quase experimental única baseada em tarefas agrícolas históricas na China, oferecendo novas perspectivas ao debate de longa data sobre a forma como a agricultura influencia o desenvolvimento cultural.

O estudo baseia-se na “teoria da cultura do arroz“, que sugere que o trabalho cooperativo e os intrincados sistemas de irrigação necessários na cultura do arroz promovem comportamentos colectivistas, contrastando com a natureza mais solitária da cultura do trigo. Esta teoria foi observada em várias regiões, do Japão à Serra Leoa, onde o cultivo do arroz é predominante.

Utilizando uma experiência natural invulgar, os investigadores examinaram os impactos culturais das práticas agrícolas em duas quintas estatais na província de Ningxia, na China, criadas após a Segunda Guerra Mundial. Estas explorações, localizadas a apenas 56 quilómetros de distância e com condições ambientais semelhantes, proporcionaram um ambiente controlado para explorar os efeitos dos tipos de agricultura nas atitudes culturais, explica o Psy Post.

A pesquisa incluiu 234 agricultores destas duas quintas, empregando vários testes psicológicos e comportamentais para avaliar os níveis de coletivismo versus individualismo. Entre estes testes, incluíam-se tarefas de sociograma, em que os participantes descreviam as suas redes sociais, e cenários de lealdade/nepotismo, que exigiam escolhas sobre recompensas ou castigos hipotéticos para amigos ou estranhos. Além disso, uma tarefa de categorização de tríades avaliava se os participantes agrupavam itens com base na pertença a uma categoria ou em relações funcionais, indicativas de estilos cognitivos subjacentes.

Os resultados do estudo revelaram diferenças distintas entre os dois grupos. Os produtores de arroz mostraram menos individualismo implícito e comportamentos mais colectivistas, como evidenciado nas suas tarefas de sociograma, onde se representaram a si próprios e às suas redes com uma perceção menos centrada no ego. Também tinham maior probabilidade de favorecer os amigos em detrimento de estranhos em cenários de tomada de decisão, alinhando com valores colectivistas que dão prioridade à lealdade ao grupo.

Por outro lado, os produtores de trigo apresentaram traços mais típicos de culturas individualistas, como uma maior focalização no ego nos sociogramas e uma menor distinção entre amigos e desconhecidos nas interacções sociais. As suas respostas na tarefa de categorização de tríades sugeriram um estilo de pensamento mais analítico, agrupando itens com base em categorias partilhadas em vez de contextos relacionais.

Apesar das limitações, como a amostra não aleatória e os potenciais factores de confusão não medidos, os resultados do estudo oferecem uma contribuição significativa para a compreensão dos impactos socioculturais da agricultura.

ZAP //

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