Reino Unido tornou-se Trabalhista. “Tenho de ser sincero: sabe bem”

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Neil Hall / EPA

Keir Starmer, futuro primeiro-ministro do Reino Unido

Partido Trabalhista com uma vitória esmagadora nas eleições. Keir Starmer deixa aviso, Rishi Sunak pede desculpa.

Keir Starmer vai ser o próximo primeiro-ministro do Reino Unido. Após 14 anos de liderança do Partido Conservador, o Partido Trabalhista levou a melhor nas eleições legislativas desta quinta-feira.

Uma “avalanche” trabalhista pintou o mapa do Reino Unido de vermelho, após uma vitória com maioria absoluta nas eleições legislativas de quinta-feira que infligiu ao Partido Conservador o pior resultado de sempre após 14 anos no governo.

O ‘Labour’ liderado por Keir Starmer ganhou 412 dos 650 lugares para a Câmara dos Comuns que foram a votos, mais que duplicando os 202 de 2019, de acordo com os resultados provisórios quando faltam apurar duas circunscrições.

A imprensa britânica batizou esta vantagem de “avalanche” [landslide] e de “golpe esmagador”.

Os ‘tories’ (conservadores) do ex-primeiro-ministro Rishi Sunak afundaram dos 365 deputados eleitos há cinco anos para 121, menos do que os 156 de 1906.

Além do Partido Trabalhista, estas eleições tiveram outros vencedores, nomeadamente os Liberais Democratas, que obtiveram o seu melhor resultado de sempre ao eleger 72 deputados, regressando como terceiro maior partido com representação parlamentar.

O populista eurocético Nigel Farage também reivindicou um triunfo ao conduzir o Partido Reformista na conquista de quatro assentos no parlamento britânico, incluindo um para ele próprio após sete tentativas falhadas.

No outro extremo do espectro político, o Partido dos Verdes também elegeu quatro deputados, mais três do que em 2019.

Na Irlanda do Norte, o Partido Democrata Unionista (DUP) perdeu três lugares, cedendo ao Sinn Féin o lugar de maior partido, embora os republicanos não ocupem os assentos em Westminster por causa do boicote às instituições britânicas.

O lugar de South Antrim foi arrebatado pelo Partido Unionista do Ulster (UUP), mais moderado, o de North Antrim pelo partido Voz Tradicional Unionista (TUV), mais extremista, e o Lagan Valley pelo centrista Partido Aliança, que não é nem pró-britânico nem pró-republicano.

“Sabe bem”

O primeiro-ministro britânico eleito, Keir Starmer, tem 61 anos. Foi advogado de defesa, especializado em assuntos de direitos humanos, antes de ser apontado para Conselheiro da Rainha. Foi diretor do Ministério Público e Chefe do Ministério Público da Coroa.

É líder do Partido Trabalhista desde 2020 e apresenta-se como progressista e centrista.

Keir Starmer já reagiu aos resultados e declarou que “a mudança começa agora” para o país que, depois de 14 anos de governo conservador, pode “recuperar o seu futuro”.

Tenho de ser sincero: sabe bem. Quatro anos e meio de trabalho, a mudar o partido. Foi para isto que o fizemos, um partido transformado, pronto a servir o nosso país, pronto a recuperar o Reino Unido ao serviço dos trabalhadores”, disse, depois de garantir a vitória nas legislativas britânicas, num discurso proferido em Londres para os militantes trabalhistas, transmitido pela televisão.

“Em todo o nosso país, as pessoas vão acordar com a notícia, aliviadas pelo facto de um peso ter sido retirado, um fardo finalmente removido dos ombros desta grande nação”, congratulou-se.

O líder trabalhista anunciou que o Reino Unido pode “olhar de novo em frente e caminhar para a manhã, para um raio de sol de esperança, pálido no início, mas cada vez mais forte ao longo do dia, brilhando mais uma vez num país que, após 14 anos, tem a oportunidade de recuperar o seu futuro”.

Starmer reconheceu que o mandato dado ao partido acarreta uma “grande responsabilidade” e que “as vitórias eleitorais não caem do céu, são conquistadas com esforço e com muita luta.

Não vos prometo que vai ser fácil. Mas mesmo quando as coisas se tornarem difíceis, e vão ser, lembrem-se desta noite”, salientou.

O Governo trabalhista formado após as eleições britânicas terá de fazer “escolhas difíceis” face à dimensão dos desafios enfrentados pelo país, alertou hoje Rachel Reeves, primeira mulher com a pasta das Finanças na história do Reino Unido.

“O caminho a percorrer não será fácil. Não existe uma solução rápida e temos pela frente escolhas difíceis. Não temos ilusões quanto à dimensão do desafio que enfrentamos, nem quanto à gravidade das dificuldades que herdaremos dos conservadores”, afirmou Reeves, de 45 anos, antiga economista do Banco de Inglaterra.

Sunak lamenta

O ainda primeiro-ministro, Rishi Sunak, reconheceu a vitória do Partido Trabalhista nas eleições legislativas britânicas e pediu desculpa aos Conservadores pela perda de muitos deputados.

“O Partido Trabalhista ganhou estas eleições gerais, e telefonei a Keir Starmer para o felicitar pela vitória”, disse Sunak, num discurso proferido depois de conhecida a reeleição pelo círculo de Richmond and Northallerton, em Yorkshire, no norte de Inglaterra.

“Hoje, o poder vai mudar de mãos de forma pacífica e ordeira, com boa vontade de todas as partes. Isso é algo que nos deve dar a todos confiança na estabilidade e no futuro do nosso país”, saudou.

Sunak admitiu “o veredicto sóbrio” dado pelos eleitores e que “há muito a aprender e a refletir” sobre os resultados.

“Assumo a responsabilidade pela derrota dos muitos candidatos conservadores que trabalharam arduamente e que perderam esta noite, apesar dos esforços incansáveis, do historial local de resultados e da dedicação às comunidades. Lamento”, declarou.

(artigo atualizado)

ZAP // Lusa

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