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Pela primeira vez, a realidade virtual mostra o que está a acontecer no coração da Via Láctea

Pela primeira vez, uma equipa de cientistas holandeses criou um modelo virtual e em 3D do buraco negro supermassivo que mora no “coração” da Via Láctea. A experiência permite calcular com mais precisão a intensidade do seu brilho, bem como fomentar o interesse no campo da Astrofísica.

De acordo com um novo artigo, publicado nesta segunda-feira na Computational Astrophysics and Cosmology, esta é a primeira vez que o monstruoso buraco negro no centro da Via Láctea – o Sagittarius A* – é observado através da realidade virtual.

A equipa de cientistas partiu de modelos astrofísicos recentes do Sagittarius A* para criar uma série de imagens que foram posteriormente organizadas de forma a criar uma simulação virtual do buraco negro em 360 graus, tal como mostra o vídeo acima.

“O nosso simulador de realidade virtual está a criar o quadro mais realístico do ambiente que rodeia o buraco negro, ajudando-nos a compreender melhor o comportamento dos buracos negros em geral. É muito pouco provável que consigamos visitar os seus arredores num futuro próximo e, por isso, este tipo de modelos tornam-se num importante auxiliar nesta área de investigação”, disse Jordy Davelaar, autor e especialista da Universidade da Universidade Radboud em Nijmegen, nos Países Baixos.

Além de permitir estudar os estranhos buracos negros, dos quais sabemos ainda muito pouco, os astrofísicos notaram também que a simulação em três dimensões podem também motivar o público em geral, incluindo as crianças, para a Astrofísica.

“As visualizações que produzimos têm um grande potencial de divulgação. Utilizamos estas imagens para introduzir as crianças ao fenómeno dos buracos negros, e [as crianças] aprendem realmente alguma coisa a partir do modelo”, sustentou o cientista.

Por isso, sugere, as “imagens em 3D são uma ótima ferramenta para divulgar o nosso trabalho para um público mais amplo, mesmo quando estão envolvidos sistemas muito complicados como os buracos negros”.

No centro da Via Láctea, bem como supostamente em todas as outras galáxias do Universo, existe um buraco negro de enormes dimensões. No caso da nossa galáxia, o buraco negro é quatro milhões de vezes mais pesado do que o Sol e situa-se a 26 mil anos-luz da Terra.

O Sagittarius A* está rodeado por algumas dezenas de estrelas e várias nuvens de gás que periodicamente se aproximam do buraco negro, ficando a uma distância perigosa. No entanto, e comparativamente aos demais buracos negros que estão constantemente a absorver matéria, o nosso está numa espécie de “hibernação.

Por este mesmo motivo, o Sagittarius A* não emite feixes de matéria candente, ficando invisível para a maioria dos telescópios, à exceção dos de ondas de rádio e raio X – como é o caso do Event Horizon Telescope.

E foi graças a estes aparelhos que Davelaar e a sua equipa foram capazes de criar este modelo a três dimensões do Sagittarius A*, demonstrando as suas características e processos que ocorrem quer no seu interior, quer à sua volta.

“Todos nós já imaginámos na nossa cabeça como é que os buracos negros são, mas a Ciência progrediu e agora podemos fazer renderizações muito mais precisas – e este buracos negros parecem ser bastante diferentes do que estamos acostumado”, considerou Heino Falcke, professor e investigador envolvido na pesquisa.

“Estas novas visualizações estão apenas a começar, mais virão no futuro“, rematou.

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