Alguns ratos são monogâmicos a vida toda por causa destas células

Augustin Lignier

O que é que faz com que o rato de Oldfield seja monogâmico durante toda a sua vida e os seus parentes roedores mais próximos não? A resposta pode estar numa célula que produz hormonas até agora desconhecidas.

O novo estudo, levado a cabo por cientistas do Instituto Zuckerman da Universidade de Columbia, analisou duas espécies de ratos: o rato de veado (Peromyscus maniculatus), e o rato de Oldfield (Peromyscus polionotus).

Segundo o Phys, investigações anteriores demonstraram que estas duas espécies se comportam de maneiras muito distintas. Enquanto a primeira se envolve com vários parceiros, o rato de Oldfield acasala com apenas um durante toda a vida.

No entanto, essas mesmas investigações também mostraram que estas espécies são irmãs evolutivas, tendo por base a análise do crânio, dentes e outras características anatómicas, como a sua genética.

Neste estudo, para descobrir porque é que estes parentes próximos se comportam de forma tão diferente, os cientistas estudaram as suas glândulas supra-renais, um par de órgãos, localizado no abdómen, que produz muitas hormonas importantes para o comportamento, como as hormonas do stress, nomeadamente a adrenalina, mas também uma série de hormonas sexuais.

As glândulas supra-renais destes ratos revelaram-se surpreendentemente diferentes em tamanho. Em adultos, as glândulas supra-renais dos ratinhos monogâmicos são cerca de seis vezes mais pesadas do que as dos seus parentes.

Uma análise genética mais aprofundada revelou que um gene, o Akr1c18, estava muito mais ativo nos animais monogâmicos. A enzima que esse gene codifica ajuda a criar uma hormona pouco estudada, conhecido como 20⍺-OHP, que também está presente nos humanos e noutros mamíferos.

Em laboratório, o aumento da hormona 20⍺-OHP impulsionou o comportamento de nutrição em ambas as espécies. Mas o mais curioso é que, normalmente, estas glândulas estão divididas em três zonas, ao contrário das glândulas supra-renais dos ratos monogâmicos, que possuem uma quarta zona.

Nas células da chamada zona inaudita, os investigadores descobriram que 194 genes, incluindo o Akr1c18, estavam muito mais ativos em comparação com os mesmos genes noutras células supra-renais. As análises permitiram igualmente identificar genes-chave subjacentes ao desenvolvimento e à função da zona inaudita nos ratinhos Oldfield.

Esta estrutura, completamente inédita, parece ter evoluído rapidamente. As mutações genéticas acumulam-se nos genomas a taxas aproximadamente previsíveis ao longo do tempo, pelo que, ao medir o número de mutações que distinguem estas espécies, os cientistas estimaram que este novo tipo de célula evoluiu nos últimos 20.000 anos.

A evolução do comportamento monogâmico ainda permanece muito incerta, ainda que haja investigadores a sugerir que a monogamia pode aumentar as hipóteses de os pais cooperarem para cuidar da sua descendência, uma vez que se sentem mais confiantes de que as crias são deles.

Este trabalho, cujo artigo científico foi publicado na Nature, defende que as células supra-renais recentemente descobertas promovem o comportamento parental típico da monogamia e pode aumentar as hipóteses de sobrevivência da descendência.

ZAP //

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