Quinze milhões de pessoas ameaçadas pelas cheias – onde menos esperávamos

Eskinder Debebe / UN Photo

Jökulsárlón, um grande lago glacial no sudoeste da Islândia, cresceu por causa do derretimento dos glaciares islandeses.

Os glaciares estão a derreter colocando milhões de pessoas em todo o mundo em risco de cheias repentinas. Um novo estudo revelou que a maioria vive em apenas quatro países.

De acordo com a investigação, publicada recentemente na Nature Communications, esses quatro países são o Peru, a índia, o Paquistão e a China, nações onde os lagos glaciares são numerosos e as populações mais vulneráveis às alterações climáticas.

Os glaciares são “rios de gelo” que se formam ao longo de milhões de anos a partir de neve comprimida. Ocorrem lentamente pelos vales e, por vezes, crescem a tal ponto que formam camadas de gelo que se estendem até ao mar.

Com o aumento das temperaturas, os glaciares estão a derreter mais rapidamente do que os cientistas pensavam e cerca de metade dos 215.000 glaciares do mundo poderão desaparecer até ao final do século, relatou o Science Alert.

Da mesma forma que a água quente que sobe das profundezas do mar pode derreter as camadas de gelo por baixo, a água derretida que se acumula sob os glaciares pode acelerar a perda de gelo. São nos locais em que essa água se acumula que surgem lagos profundos.

O novo estudo, liderado pela investigadora Caroline Taylor, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, estima que cerca de 15 milhões de pessoas vivem perto de lagos glaciares.

Prever quando vão transbordar é muito difícil. As cheias causadas por lagos glaciares ocorrem sem aviso prévio, vitimando centenas ou milhares de pessoas e destruindo as infraestruturas, cenário que se pode estender por mais de 120 quilómetros.

Taylor e os colegas avaliaram o risco que os lagos glaciares representam. Os investigadores compilaram informações sobre as condições dos lagos glaciares – que têm vindo a crescer em tamanho, número e volume nas últimas três décadas – e sobre as comunidades que vivem a jusante.

O risco pode ser complicado de calcular mas, neste caso, a equipa teve em conta a proximidade das comunidades a uma explosão e o impacto causado se o lago rebentar. A corrupção política também foi tida em conta, visto que a mesma atrasa os esforços de recuperação.

Segundo os investigadores, este é o primeiro estudo global que “considera não só as condições físicas do lago, mas também a exposição e vulnerabilidade das sociedades que influenciam diretamente o perigo” de uma cheia causada por um lago glaciar.

A análise mostrou que as áreas com maior perigo não são aquelas com os maiores e mais numerosos lagos glaciares. Também não são aquelas em que estes crescem mais rapidamente, como seria de esperar.

As populações das regiões de alta montanha da Ásia são as mais expostas, vivendo mais perto dos lagos glaciares. O Paquistão e a China classificam-se como os dois países em maior perigo a nível mundial.

O Paquistão tem 2,1 milhões de pessoas a viver nas proximidades de lagos glaciares em risco de transbordar – quase o dobro da China. Contudo, os lagos glaciares da China são maiores e mais numerosos, pelo que podem causar mais danos às infraestruturas.

Os investigadores também destacaram as montanhas dos Andes, na América do Sul, e particularmente no Peru, que ocupa o terceiro lugar em termos de perigo.

Poucas investigações foram realizadas nos Andes e, no entanto, o número de lagos glaciares na região aumentou 93% nas últimas duas décadas (em comparação com apenas 37% na Ásia). A corrupção também é um problema.

“Esta escassez de dados relativos ao Andes está a impedir avaliações significativos do risco de cheias causadas por lagos glaciares na região e isso requer atenção urgente, principalmente tendo em consideração que as bacias mais perigosas, a segunda e a terceira, encontram-se nesta região”, indicaram os especialistas.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.