O secretário de Estado do Ordenamento do Território afirma que acredita numa reintrodução do lince-ibérico no país, em junho, mas as associações ouvidas pela Lusa dizem não estar reunidas as condições mínimas.
“Vamos desenvolver todas as ações necessárias para garantir o cumprimento deste objetivo”, afirmou Miguel de Castro Neto aos jornalistas, no final dos encontros com várias associações do setor que decorreram no Ministério do Ambiente.
“Neste momento não há nada que nos leve a adiar a decisão para o próximo ano”, referiu o governante. Contudo, “em última análise, o que pode acontecer é não reintroduzirmos o lince-ibérico em local nenhum se não tivermos condições”, admitiu o secretário de Estado, frisando que este não é o cenário previsto pelo Governo.
As declarações surgem depois de o comité ibérico do projeto LIFE+ Iberlince ter apontado o final da primavera como a altura escolhida para a reintrodução no lince-ibérico em zonas como o Vale do Guadiana.
Região não está preparada
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Energética e Biodiversidade (ANPC) já vieram mostrar o seu descontentamento pelo pouco tempo existente entre a tomada de decisão e a concretização da libertação desta espécie, referindo que poderão não estar reunidas as condições mínimas em junho.
Para que a ação ocorra com sucesso, é necessário garantir que existem coelhos bravos suficientes para servir de alimento ao lince-ibérico e também assegurar que estão firmados protocolos para a segurança das populações, o que de acordo com estas entidades ainda não aconteceu.
“Neste momento continuamos preocupados”, disse à Lusa Eduardo Santos, da LPN, depois de se reunir com o secretário de Estado.
O representante salientou que “é preciso reavaliar toda esta situação e escolher um local melhor e um momento melhor para avançar”.
Isto porque “se as coisas não correrem bem, vão pôr em causa todos os esforços anteriores, o que poderá fazer o processo recuar muitos anos. Além de que começar um projeto sem garantias vai minar no futuro todos os esforços que venham a ser levados a cabo”, adiantou Eduardo Santos.
Precisa-se mais coelhos
Já o presidente da ANPC, António Paula Santos, indicou aos jornalistas que “seria prudente esperar até fevereiro porque nessa altura a estirpe hemorrágica irá fazer-se sentir nas populações de coelhos”, o que permitirá “ter a certeza de que os coelhos ganharam resistência”.
“Não queremos participar num processo de solta do lince-ibérico correndo o risco de, três meses depois, voltarmos a uma situação de quebras de 90% dos coelhos, como aconteceu na zona de Mértola”, exemplificou o dirigente.
A ANPC solicitou ainda que o Governo “pondere a data de junho, mas que não deixe cair a reintrodução do lince-ibérico porque não é essa a intenção”.
Segundo o secretário de Estado Miguel Neto, o processo de reintrodução do lince-ibérico vai ocorrer de forma gradual no Vale do Guadiana, sendo que primeiro serão libertados três animais, depois mais três e finalmente dois.
/Lusa