A maior parte dos petróglifos da Península Escandinava foram criados com ferramentas de ferro, por apenas quatro artistas — agora identificados num novo estudo. A descoberta situa os famosos helleristninger noruegueses e suecos na Idade do Ferro, muito mais tarde do que se supunha.
Um estudo recente, ainda não revisto por pares, propõe uma reinterpretação dos helleristninger, os famosos petróglifos da Idade do Ferro da Noruega e na Suécia, sugerindo que quase todos eles foram criados por apenas quatro artistas.
A investigação, conduzida por Allan Krill, professor de geologia na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, baseia-se em técnicas avançadas de datação e análise estilística, proporcionando novas perspetivas para a compreensão destes vestígios pré-históricos.
O estudo, disponibilizado em pré-publicação no Research Gate, combina dados geológicos e arqueológicos e sugere que estas inscrições rúnicas, tradicionalmente associadas à Idade da Pedra e à Idade do Bronze, pertencem maioritariamente a um período posterior.
De acordo com Krill, as marcas precisas e profundas destas inscrições indicam a utilização de ferramentas de ferro, rejeitando a ideia de que tenham sido feitas com ferramentas de pedra. Esta descoberta situa a sua criação na Idade do Ferro, por volta do ano 400 d.C.
Krill identifica quatro artistas principais por detrás destas obras: Steinn Stikkmann, Bårdr Båtmann, Ingi Innrisser e Oddr Omrisser, que desenvolveram estilos e técnicas únicos. Cada um deles deixou uma marca caraterística nas suas esculturas, permitindo traçar as suas trajetórias e contribuições artísticas.
Steinn Stikkmann, considerado o inventor da técnica de gravura com pregos de ferro, iniciou o seu trabalho nas rochas macias de Trøndelag, no centro da Noruega. Mais tarde, levou a sua arte para regiões da Suécia e outras zonas escandinavas.
As suas esculturas, que incluem figuras humanas estilizadas, navios com proas levantadas e pegadas, são notáveis pelo seu desenho geométrico e meticuloso, salienta o LBV.
De acordo com Krill, Stikkmann usou pregos de ferro, possivelmente retirados de navios, para criar estes petróglifos. Os seus painéis gravados contêm runas do antigo alfabeto Futhark, o que ajuda a datá-los do século IV.
O segundo artista identificado, Bårdr Båtmann, centrou o seu trabalho na representação de navios. Embora o seu estilo derivasse do de Stikkmann, Båtmann permaneceu principalmente na região de Stavanger, no sudoeste da Noruega.
Os seus navios têm um desenho mais realista e refletem as embarcações típicas da Idade do Ferro utilizadas para a pesca e o comércio. Ao contrário do seu antecessor, Båtmann não explorou outros motivos artísticos.
Ingi Innrisser, o terceiro artista proeminente, é reconhecido pela sua variedade de temas e pelo seu alcance geográfico. Desde a região árctica de Alta até à Rússia oriental, Innrisser esculpiu cenas que incluem veados, alces e renas, muitas vezes decoradas com padrões intrincados que sugerem órgãos internos.
Também retratou histórias complexas, como migrações de animais, caçadas e actividades de pesca em grupo. De acordo com a análise, as suas obras refletem uma profunda ligação às tradições culturais dos povos indígenas da região.
O último dos artistas, Oddr Omrisser, distingue-se pelo seu estilo naturalista e pela sua tendência para sobrepor imagens a painéis existentes, criando frequentemente composições caóticas.
Utilizou várias técnicas ao longo da sua carreira, começando com pinturas rupestres em lagos congelados e evoluindo para gravuras com pregos e raspagem de líquenes para revelar contrastes de cor.
Omrisser também introduziu uma abordagem tridimensional nas suas gravuras, acrescentando profundidade e pormenor às suas representações de animais e seres humanos.
Um tema recorrente nas esculturas destes artistas é a representação de navios, que Krill argumenta serem precursores dos famosos navios vikings. No entanto, ao contrário dos navios vikings do século VIII, os representados nas inscrições não têm mastros nem velas, o que reforça a sua origem anterior.
Esta ligação sugere que os artistas provavelmente viajavam em embarcações semelhantes, utilizando os restos de pregos para esculpir as suas obras em paragens estratégicas ao longo das costas escandinavas.
O estudo de Krill não só desafia as cronologias tradicionais como também convida a uma reconsideração da distribuição geográfica destes petróglifos e inscrições.
Segundo a sua análise, a ausência de gravuras em certas zonas, como a Finlândia ou o sul da Noruega, não se deve a limitações culturais, mas à falta de visitas destes artistas.
Além disso, a sua investigação sublinha a importância de uma abordagem interdisciplinar, combinando a geologia, a arqueologia e a arte para reinterpretar o passado.