Quarta Revolução Agrícola. Os “alimentos eletrificados” que podem mudar o mundo

ZAP // NightCafe Studio

A agricultura está à beira de uma quarta revolução, impulsionada pelo aparecimento de técnicas de eletrificação na produção de alimentos.

O uso de electricidade em sementes, culturas e solos está agora a receber atenção e financiamento substanciais de instituições como a Fundação Nacional de Ciência dos EUA.

Este movimento inovador é capaz não apenas de aumentar significativamente a rentabilidade das colheitas, mas também de abordar as crescentes preocupações ambientais associadas à agricultura tradicional.

Um dos métodos em foco, conta a BBC, é o uso de “plasma frio” para aumentar a eficiência das sementes e das plantas.

Este plasma é um gás ionizado que pode ser manuseado à temperatura ambiente, distinto do plasma natural extremamente quente gerado por raios.

Quando aplicado a sementes e plantas jovens, este plasma induziu aumentos de rendimento de até 75%, mostrando-se um método particularmente promissor para acelerar a germinação de sementes e tornar as plantas mais resistentes a stress ambiental.

No Laboratório de Morfogenese Vegetal do Imperial College de Londres, a bióloga italiana Maddalena Salvalaio está a levar a agricultura eléctrica a um novo nível com cubos de hidrogel infundidos com electricidade para estimular o crescimento das plantas.

Maddalena Salvalaio

Cubos de hifrogel eletrificados estimulam o crescimento lateral das raízes

Estes cubos de aparência futurista, feitos de um material que retém líquidos, estão equipados com elétrodos que orientam o crescimento das raízes das plantas em direções específicas — forçando-as, por exemplo, a crescer para os lados.

Os cubos têm um aspeto delicioso. “Às vezes temos que lembrar os visitantes de que não os podem comer“, diz Maddalena Salvalaio.

O objectivo é aplicar esta técnica à agricultura vertical, permitindo que as raízes cresçam lateralmente em vez de apenas para baixo, respeitando a lei da gravidade.

“Ser capaz de controlar a direção do crescimento das raízes significaria que poderíamos cultivar árvores no tecto, os nas paredes”, explica Giovanni Sena,  investigador sénior do Imperial College, à BBC.

Este avanço pode solucionar um dos grandes desafios da agricultura vertical, que actualmente consiste em empilhar caixas de crescimento horizontal umas sobre as outras.

plantae.org

Os cubos de hidrogel de Maddalena Salvalaio têm um aspeto saboroso. “Temos que lembrar os visitantes de que não os podemos comer”

Ser capaz de controlar a direção do crescimento das raízes significaria que se poderia cultivar plantas em qualquer superfície, incluindo tectos e paredes — algo que pode ser uma revolução para a agricultura vertical e até permitir a produção de alimentos em ambientes de gravidade zero, como a Estação Espacial Internacional.

Apesar destes desenvolvimentos excitantes, a interação entre electricidade e biologia das plantas é complexa e não é ainda totalmente consensual. Para tornar estas técnicas amplamente aplicáveis e fiáveis, é crucial entender os mecanismos moleculares subjacentes que governam a resposta das plantas à electricidade.

Mas a quarta revolução agrícola está a caminho e tem o potencial de transformar a produção de alimentos a nível global. Além de aumentar o rendimento das colheitas, estas técnicas podem também contribuir para uma agricultura mais sustentável, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e o consumo de recursos naturais.

Se bem-sucedidas, estas inovações podem ser uma peça-chave no combate contra a crise alimentar e as mudanças climáticas.

E talvez, num futuro próximo, possa haver árvores na Estação Espacial Internacional ou florestas na Lua.

Armando Batista, ZAP //

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