Qual é a verdadeira força dos republicanos em Espanha?

Rafa Sanchis / Flickr

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Em Madrid, Barcelona, Valência, Bilbau e outras cidades espanholas, milhares de pessoas saíram às ruas para se manifestarem a favor de um referendo sobre o futuro da monarquia no país, horas depois de o rei Juan Carlos abdicar do trono em favor do seu filho Felipe.

“Uma nova geração exige com bons motivos o seu papel como protagonista”, disse o rei no seu pronunciamento oficial, transmitido em direto na TV espanhola.

“O meu filho representa a estabilidade e tem maturidade e preparação necessários.”

Mas nem todos em Espanha estão de acordo com uma sucessão do trono sem que ocorra antes um referendo.

Com a renúncia, novas portas foram abertas para um debate político latente há muito tempo: continuidade ou mudança, monarquia ou república.

As manifestações mostram que muitos querem a república, mas qual é o apoio real que este regime tem na sociedade espanhola?

Monarquia em crise

Até 2004, a monarquia era a instituição mais valorizada pelos espanhóis, de acordo com o Centro de Investigação Sociológica (CIS).

No entanto, uma série de escândalos – especialmente aqueles que envolvem a filha do rei, Cristina, e o seu marido – afetaram a imagem da monarquia espanhola nos últimos anos.

Em 2006, a instituição tinha 5,19 dos 10 pontos possíveis na escala do CIS. Em abril de 2014, a pontuação tinha caído para 3,72.

O rei Juan Carlos foi seriamente questionado depois de ser fotografado numa expedição de caça a elefantes no Botswana. Muitos viram essa viagem como uma ostentação em tempos de plena crise económica, e o rei teve de pedir desculpas publicamente pelo seu comportamento.

Enquanto a imagem da monarquia se deteriorava, a república como sistema de governo foi ganhando força, de acordo com algumas pesquisas.

Uma sondagem encomendada pelo El País referia que em 1996 a monarquia tinha uma vantagem de 53 pontos percentuais sobre a república na preferência popular. Em 2012, a diferença tinha caído para 16 pontos – e 37% dos espanhóis preferiam a república.

Pela primeira vez nos quase 40 anos do reinado de Juan Carlos, o debate entre monarquia e república – que até então era uma questão menor – transformou-se num tema de debate social.

Nova oportunidade

Apesar das várias manifestações de apoio à monarquia feitas após a renúncia, nas ruas e nas redes sociais, a república tem sido até agora uma aspiração de grupos minoritários, sobretudo de partidos de esquerda.

Os dois partidos maioritários, o Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), têm-se posicionado até o momento contra este debate e reiteraram seu apoio à monarquia.

“Espero que em breve o atual príncipe possa ser proclamado rei”, disse o atual primeiro-ministro, Mariano Rajoy. “Nós, os espanhóis, saberemos conduzir este momento num clima sereno, com tranquilidade e gratidão ao rei.”

Mesmo assim, a decisão de Juan Carlos levou outros partidos – como os grupos de esquerda Podemos e Esquerda Unida – a convocar manifestações e a exigir um referendo que permita aos cidadãos decidir pela monarquia ou pela república.

“É o momento de dar uma oportunidade ao país”, disse o deputado Alberto Garzón.

Mesmo que estes grupos sejam minoritários do ponto de vista eleitoral, os resultados das últimas eleições europeias – em que pela primeira vez os dois maiores partidos não obtiveram mais de 50% dos votos – levaram analistas políticos a falar de um desgaste do bipartidarismo.

Na votação realizada a 25 de maio, os partidos que apoiam o sistema republicano obtiveram entre 20% e 25% dos votos, o dobro que obtiveram nas eleições gerais de 2011.

Neste sentido, um real debate sobre o futuro da monarquia talvez dependa de um aprofundamento deste desgaste do bipartidarismo e de um avanço dos partidos que defendem a bandeira da república nas próximas eleições gerais, em 2016.

ZAP / BBC

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