Os maiores problemas urbanos em 2024 são os mesmos de 1800

Camille Pissarro / The Metropolitan Museum of Art

Rua de Paris, 1892 – O Boulevard Montmartre numa manhã de inverno (Camille Pissarro)

Cinco factores originaram um rápido crescimento das cidades há 200 anos. Mas depois vieram cinco grandes problemas.

O século XIX ficou marcado, entre outros pontos, por um rápido crescimento populacional das cidades.

Cinco factores foram essenciais para esse crescimento, que foi muito mais do que limitado à densidade populacional.

O primeiro é o mais óbvio: o crescimento natural das populações, que na altura se intensificou.

O segundo foi a industrialização, que protagonizou uma evolução significativa e marcante há 200 anos. As empresas instalaram-se nas cidades, perto de zonas portuárias ou de redes de transporte, perto dos organismos da administração pública, de bancos, mercados e feiras.

A imigração também teve um papel importante. Em dois contextos: o famoso êxodo rural (pessoas a deixar as aldeias e a agricultura para trabalharem na cidade e na indústria) e a imigração estrangeira (mão-de-obra excedentária de países mais pobres).

Por fim, o fascínio. Estava um “mundo novo” à espera da população, fascinada com as modernidades e com as comodidades da vida na cidade. As cidades, essencialmente na Europa, eram símbolos do progresso.

Mas esse progresso trouxe problemas.

Ao longo do século XIX o crescimento urbano foi tal que começou a aparecer cedo o primeiro grande problema nas cidades: falta de habitação. Foi aí que começaram a surgir os prédios, construção em altura. E os preços subiram como nunca – das rendas, dos terrenos, da própria construção. As pessoas rapidamente começaram a afastar-se dos centros urbanos e a viver nos subúrbios, ou arredores das cidades.

Não faz lembrar nada?

Outro problema que rapidamente se verificou: problemas de circulação. Dentro da cidade, para entrar na cidade e para sair da cidade. Eram precisos mais transportes públicos.

Não faz lembrar nada?

Também apareceram outros três grandes problemas, estes menos comparáveis com a realidade actual: abastecimento (a procura e o consumo aumentaram imenso), saneamento e saúde pública (eram raras as intraestruturas de saneamento e abundavam as doenças e epidemias) e ainda problemas sociais e psíquicos – más condições de vida, muita miséria, marginalidade, alcoolismo e muita prostituição nos bairssos.

“Este aglomerado de 2.5 milhões de seres humanos num ponto (…). A indiferença brutal, o isolamento egoísta de cada um na busca do seu próprio interesse torna-se tanto mais repelente e ofensivo quanto mais estes indivíduos se amontoam”.

Palavras de Friedrich Engels, sobre Londres. 1845.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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