Em Singapura fez-se história duas vezes: Halimah Yacob é a primeira mulher a presidir o país e foi eleita se um único voto. Nas redes sociais o descontentamento é grande.
A malaia de 63 anos Halimah Yacob tornou-se na primeira mulher a conseguir, num país retrógado e conservador no que toca à igualdade de género, chegar ao mais alto cargo da nação.
Mas a “eleição” de Yacob está envolta em polémica, porque, na verdade, nunca chegou a haver eleições. Os outros dois candidatos foram considerados não elegíveis pelas autoridades e esta nem é a primeira vez que tal acontece.
O Governo de Singapura há décadas que é controlado pelo mesmo partido – o Partido de Ação Popular, ao qual Yacob pertenceu durante 20 anos – e, noutras ocasiões, já tornou as eleições desnecessárias ao desqualificar candidaturas, sem apresentar justificações sobre os motivos da não elegibilidade dos candidatos.
Desta vez, no entanto, o Governo decidiu justificar-se. Os outros dois candidatos, os empresários Salleh Marican e Farid Khan, cumpriam um dos critérios – eram ambos da etnia muçulmana malaia. Mas falharam o segundo critério: como não eram políticos tinham de ser presidentes de empresas com ativos superiores a 311 milhões de euros.
Este cenário trouxe de volta às redes sociais a hashtag #notmypresident, utilizado como símbolo de descontentamento aquando da eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos.
Nas redes sociais, a expressão “Presidente eleita” (president elect, em inglês), rapidamente foi substituída por “Presidente Selecionada” (President Select, em inglês), com muitos cidadãos a mostrarem publicamente o seu desagrado, avança o Observador.
As críticas às eleições, no entanto, não são de agora. Já no início das presidenciais a comunidade singapurense se revoltou quando foi anunciado que apenas a comunidade malaia se poderia candidatar.
A decisão, justificou o Governo, foi tomada em nome da harmonia do país, já que aquela nação é maioritariamente dominada pela população chinesa.
A nova presidente, que só saiu do Partido de Ação Popular para se candidatar à presidência, respondeu às críticas num discurso perante uma multidão. Halimah Yacob disse que é “a presidente para toda a gente. Ainda que não tenham existido eleições, o meu compromisso para vos servir permanece o mesmo“.
O último malaio a ser presidente de Singapura foi Yusof Ishak, que governou entre 1965 e 1970 e é a figura presente nas notas do país. O atual primeiro-ministro é Lee Hsien Loong, o filho do primeiro-ministro fundador do Estado de Singapura, Lee Kuan Yew.
Loong é o líder do Partido de Ação Popular, que está no poder desde 1959. Hoje tem 83 dos 89 assentos do parlamento.