Primeira missão científica portuguesa na Gronelândia vai estudar o mercúrio tóxico do permafrost

João Canário

A campanha será conduzida por investigadores do Colégio de Ciências Polares e de Ambientes Extremos do Instituto Superior Técnico.

Três investigadores do Colégio de Ciências Polares e de Ambientes Extremos (Polar2E) do IST vão a caminho da Gronelândia, na que é a primeira campanha científica portuguesa na maior ilha do mundo.

Segundo João Canário, professor no Departamento de Engenharia Química e investigador do Centro de Química Estrutural (CQE) do IST, a equipa de investigadores irá estudar “a dinâmica da matéria orgânica e do mercúrio, em zonas de permafrost e contínuo, no norte da Gronelândia”.

Segundo o investigador, o degelo em zonas de ‘permafrost’ (solo permanentemente gelado) do Ártico, onde o mercúrio está retido há milhares de anos, tem levado à libertação deste metal pesado para a atmosfera e água.

A João Canário juntam-se Beatriz Martins, aluna do doutoramento em Engenharia do Ambiente, que se ocupará da componente do mercúrio, e Diogo Ferreira, estudante do doutoramento em Química, cujo trabalho estará focado na matéria orgânica.

Os investigadores vão desenvolver o trabalho na estação científica de Zackenberg (74ºN), gerida pelo Greenland Ecosystem Monitoring, sediado na Universidade Aarhus, na Dinamarca.

Esta será a primeira expedição científica portuguesa na Gronelândia e “uma das primeiras a estudar estes assuntos na zona“, conta João Canário, que preside atualmente ao grupo de trabalho terrestre do International Arctic Science Committee.

João Canário orientou em 2019 um trabalho de mestrado que constatou haver nos lagos da região elevadas concentrações de metilmercúrio, a forma mais tóxica de mercúrio, com efeitos nocivos para animais e humanos.

Mas muita coisa ficou então por esclarecer, como por exemplo que bactérias fazem com que o mercúrio se torne numa neurotoxina (que causa lesões no sistema nervoso) e que processos bioquímicos ocorrem nessa transformação.

Três anos mais tarde, uma equipa de cientistas luso-canadiana coordenada pelo investigador português fez uma primeira expedição para estudar numa “área esporádica” de ‘permafrost’ no vale do rio Sasapimakwananisikw, na região subártica (Baixo Ártico) de Nunavik, na província canadiana do Quebeque.

Em consequência do aumento da temperatura global, superfícies permanentemente geladas têm derretido e gerado a formação de lagos que são autênticas “sopas” de bactérias e metais pesados como o mercúrio, que se acumula na água e em sedimentos.

Estudos anteriores revelaram que bactérias transformam o mercúrio inorgânico em mercúrio orgânico, “que é mais tóxico”, e fazem com que se torne volátil e seja libertado para a atmosfera.

De acordo com João Canário, os efeitos do degelo, causado pelo aquecimento do planeta, podem ser igualmente preocupantes quando a água dos lagos no Ártico drena para ribeiros, rios e mares.

Ao largo da costa nordeste da América do Norte, a Gronelândia é a maior ilha do mundo, com uma área de cerca de 2.166.086 km². É uma região autónoma da Dinamarca, constituída pela ilha do mesmo nome e ilhas adjacentes, com uma população escassa, confinada a pequenos povoados na costa.

Marcada por um clima ártico a subártico com verões frescos e invernos muito frios, a ilha tem a segunda maior reserva de gelo do mundo, apenas ultrapassada pela Antártida.

ZAP // IST / Lusa

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