Três cientistas russos que trabalharam na tecnologia de mísseis supersónicos russos correm o risco de ser presos por traição. Detenção dos académicos preocupa comunidade científica russa, que redigiu uma carta de apelo à sua libertação.
Os cientistas enfrentam acusações de traição “muito sérias”, disse o Kremlin esta quarta-feira. Detenções podem resultar em penas de 20 anos de prisão.
Notas que recuam vários anos provam, segundo a Reuters, a presença frequente dos três cientistas em conferências académicas internacionais, onde podem ter revelado informação protegida e confidencial.
Uma delas foi em 2012, quando dois dos detidos — Anatoly Maslov e Alexander Shiplyuk — apresentaram em Tours, França, os resultados de uma experiência relacionada com o design de mísseis supersónicos.
Outra, em 2016, quando os mesmos indivíduos, juntamente com Valery Zvegintsev —a outra detida — estavam entre os autores listados no capítulo de um livro relacionado com mísseis russos do mesmo género.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, empurrou o caso para as mãos dos serviços secretos, apesar de estar ciente da existência de uma carta aberta, publicada esta segunda-feira por cientistas siberianos que defendem os acusados e que manifesta a sua inocência.
“Vimos este apelo, mas os serviços especiais russos estão a trabalhar nisto. Estão a fazer o seu trabalho. Estas acusações são gravíssimas”, disse Peskov quando questionado sobre a carta.
Comunidade científica russa contesta detenções
No documento, da autoria do Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada em Novosibirsk, os colegas dos três detidos afirmam que os materiais apresentados pelos três acusados foram revistos várias vezes para garantir que não tinham informação restrita.
“Nesta situação, não tememos só pelo destino dos nossos colegas. Só não entendemos como continuar a fazer o nosso trabalho”, lê-se.
As detenções provocam cada vez mais descontentamento na comunidade científica russa, com os investigadores a denunciarem várias dificuldades em trabalhar.
“Os melhores estudantes recusam-se a trabalhar connosco, e os nossos melhores jovens empregados estão a deixar a ciência. Um número de áreas de investigação que são criticamente importantes para a tecnologia aeroespacial do futuro estão simplesmente a fechar porque os empregados têm medo de ingressar em tais pesquisas”, lê-se.
A detenção dos três indivíduos não é caso isolado, com as acusações judiciais por traição a aumentar na Rússia. O ano passado, outro cientista siberiano, Dmitry Kolker, foi preso por suspeitas de traição estatal. Com cancro avançado no pâncreas, morreria dois dias depois de ser transferido para Moscovo.
De acordo com o The Telegraph, foram já abertas 20 investigações este ano, o mesmo que em todo o ano passado.