Parece estranho, mas é um fenómeno cada vez mais frequente na Europa, à medida que as energias renováveis se expandem.
Em 2025, a economia na Alemanha começou de uma forma que pode deixar algumas pessoas confusas: o preço da energia abaixo de zero.
Aconteceu – outra vez – logo no primeiro dia de negociação do ano, na quinta-feira, dia 2 de Janeiro.
Verificou-se durante quatro horas, avança a Bloomberg. E verificou-se porque a produção de energia eólica atingiu os 40 gigawatts, superando largamente a procura.
Parece estranho mas, na verdade, é um fenómeno cada vez mais frequente na Europa, à medida que as energias renováveis se expandem.
A Alemanha instalou mais capacidade solar do que a procura dos consumidores exige. Há mais oferta do que procura.
Já tinha acontecido no ano passado. Ao longo de 10 dias de Maio, os produtores solares tiveram de aceitar uma redução de preço de 87% durante as horas de produção. Nesse período, quando a produção atingiu o pico, os preços caíram bem abaixo de zero.
Em média, o preço recebido foi de sensivelmente 9 euros por megawatt-hora, significativamente abaixo dos 70,6 euros pagos durante as horas sem energia solar.
É uma consequência do rápido crescimento da capacidade eólica e solar, que impulsionou a produção: “Isto é o que acontece com os preços da energia quando o volume de energia não regulada se torna igual ou maior do que a procura: os preços colapsam quando a energia não regulada produz mais”, escreveu na altura o banco sueco SEB.
No caso específico da Alemanha, em 2024 houve um aumento de 468 horas de preço de energia abaixo de zero, mais 60% do que no ano anterior. Já em França, as horas abaixo de zero mais do que duplicaram, para 356h. Também em 2024, Espanha registou preços negativos pela primeira vez.
E sim, também chegou a Portugal: no início de Abril, pela primeira vez, houve horas com preços negativos.
Traduzindo, lembrava o Expresso, há produtores disponíveis para pagar para continuarem a operar e não deixarem de injectar electricidade na rede.
Há políticos que já defendem menos subsídios, para garantir que os produtores recebem uma taxa mínima, mesmo quando a energia não é necessária.
Mas o consumidor final paga é cada vez mais…
Verdade
Uma vez mais, este é o tipo de notícia que ilustra na perfeição o paradoxal ditado “com a verdade me enganas”! Melhor ainda, é mais um caso de desinformação clara e sem escrúpulos, com que os OCS pretendem anestesiar a consciência crítica dos seus (poucos) leitores. Os casos relatados de excesso de produção de energia eólica ou solar são pouco expressivos – cerca de 5,3% na Alemanha e 4,0% na França – relativamente ao total de horas no ano, em 2024. Até aqui, nada a obstar… tudo bem!
Mas a outra face da moeda reside no simples e óbvio facto de que, tanto a energia eólica como a energia solar, necessitam de vento e de sol… verdade de La Palisse! Ora nem sempre tais fontes naturais de energia estão disponíveis, ou seja, em dias de calmaria (eólica) ou de céu nublado e à noite (solar), estas duas fontes de energias renováveis são (quase) inexistentes. Só no caso do sol, isso representa SEMPRE mais de 50% (!) do total de horas/ano, já quanto ao vento o número de horas com produção diminuta é, obviamente, muito variável. Não encontrei dados disponíveis que quantificassem com precisão este “vazio” das renováveis, embora importe referir que existe uma (limitada) capacidade para armazenar a eventual produção em excesso, de modo a compensar as referidas quebras de produção.
Por fim, a única coisa com real interesse nesta notícia são as escassas duas linhas do parágrafo final, já que a política de subsidiar, seja o que for, é intrinsecamente incorreta, negativa, antieconómica e, sobretudo, antissocial. É claro que me estou a referir UNICAMENTE a subsídios a fundo perdido para atividades económicas, os quais são ainda uma inesgotável fonte de corrupção e roubo “de colarinho branco” ao erário público… STOP IT!!!