Além da doença e da fome, a misteriosa praga, que impedia que as pessoas acordassem, também contribuiu para que a cidade não passasse da adolescência: durou apenas 14 anos.
O mapa da primeira cidade espanhola no continente americano revela uma história dramática que durou apenas 14 anos.
Santa María de la Antigua del Darién, a primeira cidade espanhola no continente americano, foi fundada em 1510 pelos conquistadores espanhóis no norte da Colômbia.
A cidade durou apenas 14 anos antes de ser destruída durante uma revolta indígena, mas a sua breve existência foi marcada por eventos altamente dramáticos, revelou agora o primeiro estudo cartográfico realizado no local.
Os investigadores descobriram casas, ruas, oficinas e, nomeadamente, uma fábrica de balas entre as ruínas de Darién. A localização foi estrategicamente escolhida, uma vez que os habitantes locais não usavam flechas envenenadas em batalha, tornando-os mais fáceis de conquistar.
Segundo os autores do novo estudo publicado na Computational Science and Its Applications, a fundação de Santa Maria assinalou um momento crucial com consequências duradouras a nível continental e regional. Durante seu curto período de existência, a cidade influenciou eventos importantes que moldaram o cenário geopolítico da América do Sul e Central.
Por exemplo, em 1513, Vasco Núñez de Balboa, o primeiro prefeito da cidade, tornou-se o primeiro europeu a chegar ao Oceano Pacífico, trazendo de volta riquezas e escravos. Além disso, expedições a partir de Santa Maria levaram à conquista do Peru, Panamá, Costa Rica e Nicarágua.
Os habitantes da cidade enfrentavam, no entanto, muitas dificuldades. As doenças transmitidas por mosquitos e a fome provocada por gafanhotos ceifaram muitas vidas.
Uma das doenças que assombrou a cidade pioneira foi a misteriosa “praga da sonolência”, possivelmente provocada pelos minerais radioativos. A praga fez com que centenas de colonos morressem — não conseguiam acordar.
Quando a cidade foi incendiada, em 1524, já tinha ceifado “mais vidas do que estrelas no céu”, segundo o notário real Gonzalo Fernández de Oviedo, citado pelo IFL Science.
Os arqueólogos redescobriram o local séculos mais tarde com recurso a imagens de satélite, radar de penetração no solo e levantamentos arqueológicos. Os resultados preliminares indicam que Santa María foi construída sobre uma aldeia indígena anterior, habitada por culturas de língua Cueva, que foram praticamente dizimadas pelos conquistadores.
A fase pré-hispânica incluía casas e jardins que datam do início do século XII, com estruturas europeias construídas sobre e à volta destes elementos mais antigos. Os investigadores identificaram pátios em rochas de casas espanholas, uma rua ocidental, uma casa para criados indígenas, um local de captação de água, oficinas para preparação de balas e armas de fogo, uma oficina de ferreiro e um cais fluvial a sul. A cidade também contava com uma catedral, um hospital e uma prisão, típicos de uma cidade castelhana do século XVI.
Apesar das suas fortificações, incluindo uma fábrica de balas, os habitantes de Santa Maria não conseguiram evitar a sua morte final.