Já se pode dizer que há um “surto” de varíola dos macacos em Portugal, como admitem as autoridades de saúde. Para já, há mais dúvidas do que certezas, mas teme-se que seja o princípio de “mais uma epidemia”.
Já há 14 casos confirmados de infecção pelo vírus Monkeypox em Portugal. Depois dos primeiros cinco casos confirmados, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) confirma mais nove infecções pela chamada varíola dos macacos, adiantando que estão a ser feitos inquéritos epidemiológicos para identificar cadeias de transmissão e potenciais novos casos.
Os casos confirmados estão em acompanhamento clínico e encontram-se estáveis, segundo a DGS. Todas as situações estão localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Relativamente aos restantes casos suspeitos, a DGS refere que as amostras ainda serão remetidas para análise pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
A directora do Programa Nacional para as Infecções Sexualmente Transmissíveis e VIH, Margarida Tavares, admite que “podemos falar em surto”, notando que “há um aumento de casos face ao que é esperado”.
“Pode ser epidemia entre homossexuais e alastrar a toda a população”
Margarida Tavares revela ainda que os cinco primeiros casos confirmados foram detectados numa clínica ligada a doenças sexualmente transmissíveis em homens jovens, com idades entre os 20 e os 50 anos.
“Apresentavam lesões genitais” e “são casos de homens que têm sexo com homens, mas essa pode só ter sido a forma como foi dado o alerta”, salienta esta responsável.
Para já, “não está descrita, classicamente, a via de transmissão sexual [como passível de causar esta infeção], mas há transmissão por contacto próximo, íntimo e prolongado“, refere ainda Margarida Tavares.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia (SPV) e director do Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Vítor Duque, considera que “pode ser o início de uma epidemia entre os homossexuais que eventualmente se pode alastrar a toda a população”, conforme declarações à CNN Portugal.
Este alerta faz recordar a epidemia de VIH/SIDA, mas Vítor Duque trata de notar que a varíola dos macacos “é totalmente diferente”. “As lesões podem ser eventualmente mais graves nas pessoas imunocomprometidas, como os transplantados, mas a infecção por si só não provoca diminuição da imunidade celular. Já no HIV a imunidade é sempre atingida”, explica o médico na CNN Portugal.
Contudo, a situação deixa a comunidade médica em alerta. “Sabe-se que vão surgir vários surtos e epidemias com vários vírus. Prevê-se que existam muitas infecções com origem em animais. Mas ninguém estava à espera que o vírus do macaco chegasse assim à Europa”, nota Vítor Duque.
A DGS e o INSA mantêm-se a acompanhar a situação a nível nacional e em articulação com as instituições europeias.
Nos próximos dias podem surgir novos casos, pois o período de incubação é de duas a três semanas e muitos dos doentes podem ser assintomáticos.
Como apareceu a varíola dos macacos?
Esta é a primeira vez que é detectada em Portugal a infeção pelo vírus Monkeypox que provoca a chamada varíola dos macacos. É do género Ortopoxvírus que causa precisamente a varíola.
A doença é rara e, habitualmente, não se dissemina facilmente entre os seres humanos. É transmissível através de contacto com animais, ou ainda contacto próximo com pessoas infectadas ou com materiais contaminados.
Em 2003, foram reportados vários casos da infecção nos EUA. Recentemente, este país, bem como Espanha e Reino Unido, entre outros, reportaram casos associados à infecção por vírus Monkeypox.
O vírus não é novo, sendo conhecido desde 1958 quando foi identificado em macacos de origem asiática, durante experiências científicas na Dinamarca, como refere Vítor Duque à CNN Portugal.
Em 1970, foram detectados casos em humanos, na República do Congo, sobretudo em crianças.
O vírus é definido, em termos médicos, como uma zoonose, o que significa que é uma doença dos animais que se pode transmitir aos humanos.
Como ocorre o contágio?
A transmissão é feita pelo contacto de lesões com a pele, nomeadamente através das relações sexuais, como refere Vítor Duque na CNN Portugal. A possibilidade de os fluídos corporais transmitirem a infecção “ainda está em investigação”.
Portanto, não se pode falar, para já, de uma infecção sexualmente transmissível (IST), nem de uma doença “exclusiva dos homossexuais”, como nota na CNN Portugal Luis Mendão do Grupo de Activista em Tratamento (GAT) que actua na prevenção e apoio a quem tem VIH/SIDA e outras ISTs.
Mendão realça que, “em especial” em África, onde havia casos reportados, “os dados relatavam uma transmissão por via oral pelas gotículas, por via de contacto de pele ou por contactos com animais“.
Quanto ao facto de ter sido detectada em vários homens homossexuais, Mendão diz que pode dever-se a uma transmissão no âmbito das “relações sociais” e que pode haver outros casos entre heterossexuais não detectados, até porque estes fazem menos check-ups regulares.
A DGS também explica que não é fácil o vírus transmitir-se de pessoa a pessoa, nem entre os macacos.
Que sintomas tem quem está infectado?
A DGS avança que a infecção se manifesta com sintomas como lesões ulcerativas, erupção cutânea e gânglios palpáveis que podem ser acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço.
Com este quadro, é conveniente procurar aconselhamento médico.
O estado febril dura, em média, entre um a três dias e só depois disso, é que começarão as erupções e/ou lesões que podem prolongar-se por duas a quatro semanas.
Estas lesões podem causar dor ou ter pus, desenvolvendo depois crostas.
Mas a maioria dos casos de infecção são assintomáticos.
Como se trata?
A DGS nota que a infecção “não requer tratamento específico” e que é “habitualmente autolimitada em semanas”. Até porque não costuma evoluir para casos graves.
Portanto, o tratamento depende muito dos sintomas, mas envolve, sobretudo, medicamentos para aliviar os sintomas.
Nesta altura, ainda estão a ser investigados fármacos específicos para esta varíola dos macacos.
Como posso evitar o contágio?
“Perante sintomas suspeitos”, deve evitar “contactos físicos directos”, como refere a DGS.
Vítor Duque reforça na CNN Portugal que se deve “evitar o contacto íntimo com pessoas com lesões cutâneas e com algum grau de promiscuidade sexual”.
Já Luis Mendão reforça, no mesmo canal, que até os abraços e os beijos podem ser perigosos. Contudo, sustenta que não “há razão para alarme” porque a doença, “pelo menos até agora, é descrita como pouco transmissível”.
ZAP // Lusa
Ia mandar um bitaite. Mas só me ocorrem piadas homofóbicas. A comunidade LGBTIQ+++++++ seguramente não deixaria de se insurgir. Portanto, mais vale abster-me. Idêntica abstenção é recomendável aos homossexuais….
Eu lembrei-me das cenas das bandeiras… se calhar, tanta bandeira hasteada onde não devia ajudou a espalhar esse vírus!…
Mais uma! Entre guerras e epidemias estamos bem aviados!