A onda de despedimentos nas tecnológicas que se está a registar noutros países não tem afetado Portugal, segundo empresas de recursos humanos.
Em declarações ao Negócios, a Landing.jobs e a Neves de Almeida HR Consulting indicaram que as perspetivas para o setor são de crescimento.
Embora nos últimos meses empresas como a Talkdesk, a Remote ou a Farfetch tenham despedido funcionários, Pedro Moura, chief officer da Landing.jobs, e Pedro Rocha e Silva, CEO da Neves de Almeida, defendem que estes casos não são reflexo do que se passa no setor.
As situações em que houve despedimentos em Portugal tiveram lugar, sobretudo, entre unicórnios – empresas avaliadas em mais de mil milhões de euros.
No caso da Remote, foram dispensados em julho 8% dos colaboradores em Portugal – entre 12 e 16 trabalhadores. Em agosto, a Talkdesk indicou que os despedimentos representariam “um dígito percentual” do número de colaboradores a nível mundial – perto de 200 pessoas no total, avançou o jornal.
Já a Farfetch, primeira empresa portuguesa a alcançar o estatuto de unicórnio, terá iniciado mais de 100 processos de despedimento em agosto, não se sabendo quantos destes seriam em Portugal, segundo a plataforma Teamlyzer.
“Muitas ‘scale-ups’ e unicórnios tiveram lógicas de contratação muito agressivas e, por vezes, pouco estruturadas, tendo em conta o acesso que tiveram nos últimos anos a grandes montantes de capital e ao paradigma de que o talento tecnológico seria um dos principais pilares de competitividade e crescimento”, referiu Pedro Moura.
Ao que acrescentou: em cenário de “anemia económica”, é natural que o crescimento acelerado resulte numa correção, mas não acredita ser definitivo, porque “em poucos meses estas empresas deverão retomar os processos de contratação em massa, provavelmente, já com maior maturidade”.
Pedro Rocha e Silva indicou que estas situações “não são maioritárias” e que, na maioria dos casos, continua a haver “perspetivas de crescimento e de aposta continuada na contratação e no reforço das equipas”. Esta é “a tónica para cerca de 80% das empresas nesta área”, sublinhou.
“Para as grandes empresas nacionais, o problema é ao contrário, porque tipicamente não conseguem pagar salários tão altos quanto empresas estrangeiras ou ‘scale-ups'”, disse Pedro Moura ao Negócios, reforçando que não há talento que chegue, tanto em Portugal, como na maior parte do mundo.
“Não são estes despedimentos que vão meter mais talento no mercado. Todos os profissionais de tecnologia que estão de alguma forma a sofrer, no dia ou na semana a seguir, têm um emprego, porque há empresas mais estáveis que, se calhar, não embarcaram em lógicas tão aventureiras de contratação e estão a aproveitar”, disse.
Pedro Rocha e Silva considerou ainda que os despedimentos a nível global podem comportar ainda mais riscos para o país. “Para as empresas será mais uma ameaça, porque podemos ter aqui grandes tubarões a olhar de forma mais interessada para o nosso mercado”, concluiu.