No auge da Guerra Fria, foi criada a Zona Nacional de Silêncio Radioelétrico (NRQZ) nos EUA, onde até hoje são proibidos aparelhos eletrónicos. Tudo pela sede de conhecimento do Universo.
A pequena cidade de Green Bank, localizada na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, é muitas vezes identificada como a “cidade mais silenciosa da América”. Isto porque os seus residentes são obrigados por lei a viver com restrições, no mínimo, curiosas: não podem ter telemóveis, Wi-Fi nem sequer microondas. Mas porquê?
A localidade do condado de Pocahontas, que recebeu o seu nome em 1821 em homenagem à famosa filha do chefe Powhatan dos nativos americanos dos Estados Unidos, que veio de Jamestown, Virgínia, só tem 141 habitantes, de acordo com o censo de 2020, mas não é pelo número baixo de habitantes que é tão calma.
É por causa da interferência que produzem no espetro de radiofrequência. Green Bank situa-se na Zona Nacional de Silêncio Radioelétrico (NRQZ), uma área de 33 mil quilómetros quadrados criada em 1958 para reduzir a interferência eletromagnética que poderia perturbar as operações do Telescópio de Green Bank (GBT) — o maior radiotelescópio orientável do mundo.
Concebido para detetar sinais incrivelmente fracos do Espaço, qualquer forma de interferência electromagnética que afete o GBT — mesmo de dispositivos do dia-a-dia como telemóveis ou micro-ondas — pode comprometer os seus delicados instrumentos.
Assim, a vida em Green Bank parece ter parado no século passado. Os residentes ainda dependem de telefones fixos e de ligações à Internet com fios, uma vez que os dispositivos móveis e as redes sem fios são proibidos. Mas curiosamente, estão ligados por um avançada busca pelo conhecimento científico.
“Os habitantes desta pequena cidade não estão ligados da forma mais moderna, mas ao longo do tempo, observei uma ligação mais profunda que partilhavam, unidos pela busca do conhecimento científico“, disse ao DailyMail, no ano passado, Katie Dellamaggiore, que dirigiu um documentário sobre o local.
“O estilo de vida único e desconectado da cidade chamou-me imediatamente a atenção”, confessou: “era ainda mais intrigante o facto de os cientistas utilizarem o Telescópio de Green Bank para explorar alguns dos maiores mistérios da ciência, como a forma como o Universo começou e se existe vida inteligente para além da Terra”.
Para fazer cumprir as regras, a cidade tem uma equipa de monitorização que deteta ativamente quaisquer emissões eletromagnéticas não autorizadas, para que o GBT continue a sua missão de explorar os confins do Universo, à procura de sinais que possam revelar os mistérios do Espaço.
Por isso, se procura um destino de férias longe das constantes distrações digitais, Green Bank é a resposta.
“Embora compreenda o desejo de acesso à tecnologia comum, é desanimador pensar que uma das últimas zonas de silêncio intencional pode em breve tornar-se uma coisa do passado. Devemos esforçar-nos por preservar este lugar único na Terra”, acredita a diretora.