Viver perto de poços de ‘fracking’ triplica a probabilidade de leucemia em crianças

Crianças que vivem perto de poços de extração de petróleo e de gás desde que nasceram têm uma probabilidade três vezes maior de desenvolver leucemia, segundo um novo estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos (EUA).

No estudo, publicado recentemente na Environmental Health Perspectives, a equipa analisou mais de 400 casos de leucemia linfoblástica aguda (LLA) numa amostra dde 2.500 crianças da Pensilvânia, com idades entre dois e sete anos.

A leucemia é o tipo mais comum de cancro em crianças e, embora a taxa de sobrevivência seja alta, pode causar outros problemas de saúde, como deficiência cognitiva e doenças cardíacas.

O ‘fracking’ hidráulico é o processo através do qual o petróleo e o gás são extraídos do solo, tendo o número de poços nos EUA proliferado nos anos 2000, potenciado pelo crescimento da indústria. Mais de 10 mil poços foram perfurados na Pensilvânia entre 2002 e 2017 e cerca de um terço está localizado a dois quilómetros de poços residenciais, mostrou o estudo, citado pelo Guardian.

Segundo a investigação, o risco é maior para as crianças que vivem a dois quilómetros de um local de extração e que foram expostas ainda quando estavam no útero das mães. O estudo mostrou que o risco permanecia elevado para distâncias até dez quilómetros.

O ‘fracking’ pode “libertar produtos químicos associados ao cancro”, sendo a exposição a esses agentes “uma grande preocupação de saúde pública”, disse Nicole Deziel, uma das autoras do estudo.

Embora as provas crescentes sugiram uma relação entre a exposição a poluição e problemas de saúde, poucos estudos analisaram a ligação entre este tipo de exposição e o cancro infantil. Este estudo é, assim, o mais abrangente na avaliação do impacto na saúde das crianças e o primeiro a utilizar uma nova métrica que mede a exposição à água potável contaminada e a distância a um poço.

O processo de fracionamento requer a injeção de grandes quantidades de água e areia, que empurram o petróleo e o gás para um poço coletor. Centenas de produtos químicos associados ao cancro e outros problemas de saúde são utilizados nesse processo, incluindo metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, compostos orgânicos voláteis, benzeno e material radioativo.

Cerca de metade dos residentes nos condados predominantemente rurais do estudo da Pensilvânia utilizam poços para extrair água. Esses poços residenciais não estão sujeitos a regulamentos federais ou monitorização, deixando ao utilizador a responsabilidade de garantir que não estão a beber água contaminada.

Os residentes nas proximidades dos poços de extração enfrentam também exposição a produtos químicos através do ar, do tráfego de veículos pesados e da construção.

A Pensilvânia obriga a uma distância de apenas 150 metros entre os poços residenciais e os de extração. Noutros Estados, diminui para 45 metros. O Colorado, um dos maiores produtores de ‘fracking’, decretou há vários anos uma distância de 600 metros. Mas, de acordo com os autores, não é o suficiente.

“As nossas descobertas sobre o aumento do risco de leucemia a distâncias de dois quilómetros ou mais das operações, em conjunto com provas de numerosos outros estudos, sugerem que as distâncias estabelecidas (…) são insuficientes para a proteção da saúde das crianças”, disse Cassie Clark, outra das autoras do estudo.

ZAP //

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