Cientistas afirmaram num artigo, publicado no início de julho, que todas as plantas não sentem absolutamente nada, porque a consciência, as emoções e o conhecimento só estão reservadas aos animais.
A ideia de que as plantas têm algum grau de consciência começou nos anos 2000. Tal como recorda o Live Science, o termo “neurobiologia vegetal” começou a ser usado para descrever a noção de que alguns aspetos do comportamento das plantas poderiam ser comparados à inteligência dos animais.
E alguns cientistas afirmaram mesmo que, embora as plantas não tenham cérebros, o disparo de sinais elétricos nos seus caules e nas suas folhas desencadeiam respostas que sugerem essa consciência.
Porém, de acordo com um novo artigo publicado, no início de julho, na revista científica Trends in Plant Science, essa ideia é um perfeito disparate. Os autores consideram que a biologia vegetal é complexa e fascinante, mas difere tanto da dos animais que a chamada inteligência das plantas pode ser intrigante, mas certamente inconclusiva.
Nos animais, a neurobiologia refere-se aos mecanismos biológicos através dos quais o sistema nervoso regula o comportamento, de acordo com a Mind Brain Behavior Interfaculty Initiative da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Ao longo de milhões de anos, os cérebros de diversas espécies evoluíram para produzir comportamentos que os especialistas identificam como inteligentes: entre eles estão o raciocínio, a resolução de problemas, o uso de ferramentas e o auto-reconhecimento.
Nos inícios de 2006, alguns cientistas argumentaram que também as plantas possuem células semelhantes a neurónios que interagem com hormonas e neurotransmissores, formando “um sistema nervoso vegetal, análogo ao dos animais”, como afirmou o autor principal deste novo estudo, Lincoln Taiz, professor emérito de células moleculares e biologia do desenvolvimento da Universidade da Califórnia.
De acordo com o mesmo site, esta perspetiva faz sentido se simplificarmos o funcionamento de um cérebro complexo, reduzindo-o a uma série de impulsos elétricos, uma vez que as células nas plantas também se comunicam através de sinais elétricos.
No entanto, a sinalização numa planta é só superficialmente semelhante aos mil milhões de sinapses disparadas num cérebro animal, que é mais do que “uma massa de células que se comunicam por eletricidade“, explica Taiz ao site, acrescentando que “para que a consciência evolua, é necessário um cérebro com um limiar de complexidade e capacidade”.
Outros investigadores que recentemente se debruçaram sobre a neurociência da consciência descobriram que os animais, apenas vertebrados, artrópodes e cefalópodes, tinham cérebros complexos o suficiente para permitir que fossem conscientes.
“Se os animais inferiores — que têm sistemas nervosos — não têm consciência, as probabilidades de as plantas — sem sistemas nervosos — terem consciência são efetivamente nulas“, declara Taiz.
“E, afinal, o que há de tão bom na consciência?”, questiona o Live Science. As plantas não podem fugir do perigo, por isso investir energia num sistema corporal que reconheça uma ameaça e possa sentir dor seria uma estratégia evolutiva muito fraca, de acordo com o mesmo artigo.
“Ser consciente pode parecer uma diversão inofensiva para as plantas quando estão a ser tratadas num jardim mas imaginemos, por exemplo, a situação das árvores durante um incêndio florestal. Eu não desejaria infligir nas árvores a consciência e a dor de serem queimadas vivas”, afirmou ao mesmo site.
“Estar inconsciente é, de todas as probabilidades, uma vantagem para as plantas e contribui para a sua aptidão evolutiva”, concluiu.