Uma perspectiva bidimensional plano ajuda na criação de uma narrativa visual. Mas as justificações não se ficam por aqui.
Quem olha para as (imensas) pinturas do antigo Egipto, que resistiram até aos nossos tempos, já deve ter reparado que tudo parece plano.
Sejam pessoas, animais ou objectos, tudo está dentro de uma perspectiva bidimensional.
Aliás, essa é uma das características mais marcantes da arte visual egípcia antiga.
Martin McGuigan, no portal Live Science, lembra que, ao contrário do que acontece num desenho a três dimensões, desenhar a duas dimensões é sinónimo de destacar apenas uma superfície desse objecto – e isso pode ser vantajoso.
“Na representação pictórica, o contorno carrega consigo mais informações. É mais fácil entender algo se for definido por um esboço”, descreveu John Baines, professor de egiptologia em Oxford.
Ou seja, a pintura pode ter outros detalhes, mas o contorno acaba por ser aa característica mais importante, numa pintura plana, que também procura ser clara e facilmente compreensível.
E o tamanho é sinónimo de importância. A realeza, os proprietários de túmulos surgem muitas vezes muito maiores do que os objectos à volta – algo que não aconteceria se fosse descrito numa pintura a três dimensões, com proporções realistas.
Além disso, uma perspectiva bidimensional ajuda na criação de uma narrativa visual: escrita na vertical (colunas), imagens na horizontal (linhas).
E as legendas hieroglíficas “fornecem informações que não são tão facilmente colocadas numa imagem”, explicou Baines.
Apesar de a maioria das obras que passam pelos nossos olhos ser “plana”, há também composições em paredes de túmulos com baixo-relevo com, por exemplo, corpos esculpidos na superfície plana da parede. O relevo acaba por modelar a superfície do corpo.
Este método bidimensional foi “copiado” por artistas de outras regiões e chegou à Europa dos tempos da Idade Média: “É um sistema que funciona muito bem e, portanto, não há necessidade de alterá-lo”, finalizou John Baines.