Pestanejar faz mais do que humedecer os olhos. Estranhamente, revela um novo estudo, também ajuda na visão.
Num novo estudo, uma equipa de investigadores tentou identificar a utilidade do ato de pestanejar, uma vez que o fazemos mais frequentemente do que o necessário para lubrificar os olhos.
Os resultados do estudo, recentemente publicados na revista PNAS, sugerem que, além de humedecer os olhos, pestanejar melhora também a visibilidade.
“Pestanejar aumenta o poder de estimulação da retina, e este efeito aumenta significativamente a visibilidade”, diz Bin Yang, neurocientista da Universidade de Rochester e primeiro autor do estudo, citado pelo Science Alert.
Um estudo anterior, publicado em 2012 também na PNAS, tinha já sugerido que o pestanejar refresca a nossa atenção, ajuda no reconhecimento de objetos e corta um fluxo interminável de informação visual e auditiva em pedaços, para facilitar o processamento dos dados recebidos.
No entanto, de cada vez que pestanejamos, também perdemos a visão durante curtos apagões de 300 milissegundos — mesmo que não nos apercebamos disso. Seria de esperar que essa interrupção reduzisse a atividade dos neurónios que respondem às informações visuais.
Surpreendentemente, um estudo publicado em 2016 na eLife demonstrou que, embora a atividade neural diminua à medida que as pálpebras se fecham, recupera para um nível mais elevado imediatamente a seguir a um pestanejo, o que, acreditam os cientistas, melhora a visão.
Na sequência dessas descobertas, Yang e os seus colegas usaram rastreio ocular de alta resolução para investigar a forma como pestanejar afecta a visão. O estudo analisou 12 pessoas que visualizaram imagens de contraste variável num ecrã.
Uma vez que ambos os olhos pestanejam em conjunto, apenas um olho foi monitorizado em cada pessoa, tendo sido também registada a intensidade da luz, ou luminância, das entradas visuais dos participantes.
Em relação aos períodos em que os participantes fixavam o ecrã, os investigadores descobriram que os pestanejos aumentavam a intensidade dos sinais de entrada visual, modulando a intensidade da luz que incidia sobre a retina.
Este aumento visual foi observado quando os participantes foram instruídos a piscar os olhos e quando o fizeram por reflexo.
Ao contrário de estudos anteriores que concluíram que apenas os pestanejos reais melhoravam a atenção, e não os simulados, as alterações na luminosidade que imitavam um pestanejo também aumentavam momentaneamente a visão.
“Em vez de prejudicar o processamento visual, como normalmente se supõe, os pestanejos aumentam a sensibilidade“, explica Yang.
Os resultados do estudo permitiram também concluir que os pestanejos ajudam a reformatar a informação visual, à semelhança do que acontece com outros movimentos oculares, que moldam a visão ao acrescentarem marcadores espaciais e “marcas temporais” à nossa visão.
Considerando que passamos cerca de 10% das nossas horas de vigília com os olhos fechados por causa do pestanejar, é reconfortante saber que, pelo menos, é por uma boa razão.
Até parece que pestanejar é uma acção primordialmente voluntária… Normalmente, o pestanejar ocorre de modo espontâneo por causa da produção de lágrimas para lubrificação do globo ocular. Quando não se pestaneja isso é sinal de que não há produção de lágrima e portanto o olho não está a ser lubrificado, encontrando-se na situação de olho seco. Isso pode ter consequências muito graves, podendo conduzir à cegueira, a médio ou longo prazo. Nesse caso será necessário recorrer à administração de gotas lubrificantes, ao longo do dia, com menor ou maior frequência, consoante a gravidade da situação.