Piolhos de múmias sul-americanas ajudam a revelar passado migratório

Universidad Nacional de San Juan

Lêndeas encontradas no couro cabeludo de múmias sul-americanas ajudaram a revelar o seu passado migratório.

Uma equipa de cientistas encontrou ADN humano preservado em “cimento” parecido com cola que fixa os ovos dos piolhos às cabeças de animais ou pessoas — neste caso, de múmias.

Os investigadores descobriram que o “cimento” de piolhos encontrado em oito múmias argentinas com idades entre os 1.500 e os 2.000 anos continha células da pele do couro cabeludo de humanos, escreve a revista The Scientist.

Através de sequenciamento de ADN, os cientistas conseguiram determinar o sexo das múmias, bem como provar que a população a que as múmias pertenciam migrou do oeste da Amazónia — provavelmente das florestas tropicais do sul da atual Venezuela e Colômbia — para os Andes, na Argentina.

Ao analisarem o ADN mitocondrial dos ovos dos piolhos, os investigadores confirmaram que estes também provinham da floresta amazónica.

Além de mais, a localização em que foram encontrados as lêndeas, no couro cabeludo das múmias, indica que os hospedeiros provavelmente foram sujeitos a temperaturas extremamente baixas na hora da morte.

Os vestígios deixados pelos piolhos também preservaram ADN ambiental, incluindo traços de várias estirpes de bactérias e poliomavírus de células de Merkel, que causam cancro da pele.

No estudo, publicado recentemente na revista científica Molecular Biology and Evolution, os autores realçam que esta é “a evidência direta mais antiga para este patógeno viral humano” e especula-se que os piolhos sejam um vetor para a propagação do vírus.

Normalmente, o ADN é extraído dos dentes e dos ossos, através de uma técnica que muitas vezes danifica estes restos mortais.

“Ao caracterizar geneticamente um hospedeiro humano usando apenas um punhado de lêndeas, evitamos a amostragem destrutiva de ossos e dentes que deterioram ou destroem espécimes antigos únicos. Isto também evita conflitos com povos indígenas, já que as múmias ou o esqueleto são deixados intactos, apenas alguns fios de cabelo contendo lêndeas são suficientes”, explica a coautora Alejandra Perotti ao The Guardian.

ZAP //

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