Peixes sem olfato e répteis que mudam de sexo. Os estranhos efeitos do aquecimento global

Brocken Inaglory / Wikimedia

O canto dos pássaros, o desabrochar das flores e as picadas de mosquito não são ações normalmente associadas ao mês de novembro no norte da Inglaterra. Mas são alguns dos efeitos colaterais mais leves do aquecimento global.

Além de provocar cheias e secas, o aumento das temperaturas é responsável por explosões espontâneas do ‘permafrost’ (ou pergelissolo, em português) siberiano, pela escassez de mostarda e pelo escurecimento do planeta, relatou a BBC News Brasil. Os impactos das alterações climáticas são devastadores – e alguns estranhos.

Cientistas russos atribuem o aparecimento de crateras gigantes no degelo do permafrost – a camada de terra congelada – siberiano ao aumento da temperatura do solo, que causa a explosão espontânea de bolsões de gás subterrâneos. Esta é apenas uma hipótese para explicar a formação de crateras gigantes no Ártico.

Essas crateras são um “sinal inquietante” de que a paisagem fria e amplamente despovoada no norte do planeta está a passar por mudanças radicais. Pesquisas recentes também mostraram que o Ártico está a aquecer mais rápido do que se pensava – quatro vezes mais rápido que o resto do mundo.

As alterações climáticas também podem estar a atenuar o “brilho” do planeta, de acordo com cientistas do Big Bear Solar Observatory, em Nova Jersey, nos Estados Unidos (EUA). Ao medir a luz do Sol refletida da Terra para a parte escura da Lua à noite, os cientistas medem o “brilho da Terra” – a sua capacidade de refletividade.

Os estudos sugerem que a quantidade de nuvens baixas sobre o leste do Oceano Pacífico está a diminuir devido ao aumento das temperaturas do oceano. Como essas nuvens agem como um espelho, refletindo a luz do Sol de volta ao espaço, sem elas, o reflexo diminui.

Não somos as únicas espécies a lidar com o aquecimento global. Em alguns répteis, o sexo é parcialmente determinado pela temperatura na qual os ovos são incubados. Os cientistas estão preocupados que os machos possam tornar-se cada vez mais raros à medida que o mundo aquece, colocando espécies em risco de extinção.

O níveis crescentes de dióxido de carbono nos oceanos podem também levar os peixes a perder o olfato.

A alterações climáticas estão igualmente a alterar a sincronia sazonal. Na floresta de Wytham Wood, a mais estudada do Reino Unido, filhotes de chapim-real, uma ave bastante comum em toda a Europa e Ásia, saíram dos seus ovos até três semanas antes do que teriam feito na década de 1940.

Toda a cadeia alimentar da primavera mudou com o aquecimento – as lagartas que os pássaros comem, as folhas do carvalho que as lagartas comem -, todos atingem o seu pico semanas antes do que costumavam fazer.

Enquanto as estações mudam, muitas aves se adaptam-se ou mudam-se. Neste ano, filhotes de abelharucos nasceram numa pedreira de Norfolk – geralmente são encontrados no sul do Mediterrâneo e no norte da África.

Até a paisagem sonora está a mudar. Londres é agora palco de cantos de pássaros fora de época. Um estudo sugeriu que os pássaros da floresta estavam a subir mais alto nas árvores para cantar, possivelmente para evitar que os seus cantos fossem abafados pela folhagem antecipada.

O clima extremo também está a dificultar o cultivo de alimentos. Produtos básicos como trigo, milho e café já estão a ser afetados. E, neste ano, houve uma escassez de condimentos.

Em abril, a Huy Fong Foods, empresa com sede na Califórnia que produz cerca de 20 milhões de garrafas de molho de pimenta todos os anos, enviou uma carta aos clientes a alertar sobre a “grave escassez” de pimenta.

No verão, os supermercados na França começaram a ficar sem mostarda de Dijon – um problema que pode ser atribuído ao mau tempo nas pradarias canadianas, onde a maioria das sementes de mostarda do mundo são cultivadas.

As alterações climáticas estão a dificultar até mesmo os esforços para eliminar o carbono. Em agosto, a empresa de energia EDF teve que reduzir a produção de usinas nucleares na França, porque não havia água fria suficiente nos rios franceses.

A resposta é uma redução dramática nos gases que aquecem o planeta. Mas já transformamos o nosso mundo ao aquecê-lo – e é provável que haja muito mais consequências surpreendentes e inesperadas.

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