O comentador da SIC referiu ainda que as previsões iniciais do IST não tinham em conta o impacto da reabertura das escolas e da campanha nos contágios e que Portugal deve chegar aos 60 mil casos diários no fim do mês.
No seu espaço habitual de comentário na SIC, Luís Marques Mendes recorreu a um estudo do Instituto Superior Técnico para sustentar a ideia de que o pico da quinta vaga da pandemia afinal ainda não chegou e só deve acontecer entre 6 e 12 de Fevereiro. A reabertura das escolas e a campanha eleitoral têm adiado o pico.
Segundo o comentador, os peritos do IST não tinham equacionado os efeitos das arruadas, comícios e outros ajuntamentos típicos ajuntamentos das campanhas nas previsões iniciais.
As estimativas destes especialistas são agora de cerca de 60 mil casos diários até 31 de Janeiro, com um máximo de 50 mortes e 240 pacientes internados nos cuidados intensivos. Isto pode traduzir-se em 1 milhão de isolados no fim do mês.
“A verdade é que a campanha está a provocar contágios. Mas não há razão para dramatizar porque um pico mais tardio não traz complicações acrescidas dentro dos hospitais”, assinalou, recordando a grande redução nos números de internados entre agora e há um ano, apesar de actualmente haver muitos mais contágios.
A principal razão para esta grande redução no número de óbitos e de casos graves é a alta taxa de vacinação da população e também a administração da dose de reforço a 90% dos maiores de 60 anos. Mesmo assim, Marques Mendes lamentou que Portugal já não seja o melhor país da União Europeia neste aspecto, estando agora em 12º lugar relativamente à terceira dose.
“Eleições mais incertas e imprevisíveis dos últimos 20 anos”
O conselheiro de Estado também comentou a primeira semana de campanha eleitoral para as legislativas de 30 de Janeiro, descrevendo-as como as “eleições mais incertas e imprevisíveis” dos últimos 20 anos devido à recente aproximação do PSD ao PS nas sondagens.
A primeira causa desta perda de terreno dos socialistas é o “desgaste” que a liderança de António Costa já tem ao fim de seis anos à frente dos destinos de Portugal. Há também a ter em conta uma diminuição dos eleitores indecisos, que “já se sabia” que estavam “mais inclinados para o lado da oposição”.
O pedido desinibido da maioria absoluta também pode causar “desconfiança” entre o eleitorado, sobretudo entre a esquerda já que “as pessoas não reagem bem a uma ideia de maioria absoluta” e que se lembram do Governo maioritário de Sócrates.
“É legítimo pedir maioria absoluta, mas aos olhos das pessoas hoje em dia um pedido aberto de maioria absoluta é visto como um acto de arrogância. Maioria absoluta é igual a poder absoluto”, enumerou.
O estilo de campanha de Rui Rio também tem feito estragos à vantagem socialista. “Tem sido uma campanha simples, mas eficaz, que não introduziu temas de clivagem ou fracturantes”, referiu.
O ex-líder do PSD considera também que António Costa parece “baixar os braços”. A última semana de campanha vai ser “tensa e muito intensa” com uma maior bipolarização entre os dois maiores partidos e apelos ao voto útil.
Independentemente de quem ganhar, Marques Mendes acredita que “vamos regressar à normalidade”, com o Bloco de Esquerda e o PCP a voltarem a ser partidos de protesto e com uma governação “mais ao centro”.
Sobre a solução proposta pelo Governo para que as pessoas em isolamento possam votar, o comentador acredita que reservar o período entre as 18 e 19 horas para estes cidadãos é uma “má” alternativa, já que pode levar a um aumento da abstenção. “Vamos ter pessoas isoladas que não vão votar e pessoas com medo de serem contaminadas que também não vão votar”, concluiu.