Os pássaros (não) são reais. Há uma teoria da conspiração a tentar combater a desinformação

Nos últimos dias, apareceram milhares de cartazes em Pittsburgh, Memphis e Los Angeles, nos Estados Unidos, a afirmar que “os pássaros não são reais”. Nas redes sociais, o Birds Aren’t Real tem acumulado centenas de milhares de seguidores, num movimento que pretende combater a desinformação.

A teoria da conspiração que alega que os pássaros não existem defende que as aves não passam de drones instalados pelo Governo norte-americano para espiar os cidadãos.

Segundo o The New York Times, o que o movimento Birds Aren’t Real tem de peculiar é o facto de o criador, Peter McIndoe, ter consciência de que os pássaros existem e que a sua teoria não passa disso mesmo: de uma teoria.

O movimento é, portanto, uma paródia com um propósito. Num mundo dominado por teorias de conspiração, os jovens têm-se mobilizado em torno desta missão para criticar, combater e ridicularizar a desinformação.

“A minha forma favorita de descrever o movimento é combater a loucura com loucura”, referiu Claire Chronis, de 22 anos.

Os membros defendem que, ao fazerem-se passar por teóricos da conspiração, encontraram uma comunidade com uma afinidade em comum.

Birds Aren’t Real não é uma sátira superficial de conspirações vindas do exterior. É uma sátira do fundo do poço”, sustentou Peter McIndoe. “Muitas pessoas da nossa geração sentem a insanidade disto tudo, e este movimento tem sido uma forma de as pessoas processarem isso.”

Como nasceu o movimento?

Peter McIndoe esteve, quase desde sempre, mergulhado em conspirações. Cresceu com sete irmãos numa comunidade conservadora e religiosa, foi educado em casa e ensinaram-lhe que “a evolução era um enorme esquema democrata de lavagem ao cérebro e que Obama era o Anticristo“.

Na adolescência, leu livros como Remote Control, que fala sobre as mensagens anti-cristãs ocultas de Hollywood. Os meios de comunicação social ofereceram-lhe uma porta de entrada para a cultura mainstream, tal como os vídeos de Philip DeFranco e de outros youtubers, que abordavam assuntos atuais e cultura pop.

Fui criado pela Internet, porque foi onde acabei por encontrar muita da minha verdadeira educação, através de documentários e do YouTube. Toda a minha compreensão do mundo foi moldada pela Internet”, disse, em declarações ao NYT.

Em janeiro de 2017, numa altura em que Donald Trump tinha acabado de tomar posse como Presidente dos Estados Unidos, McIndoe viajou para Memphis para visitar uns amigos.

Perante um aglomerado de manifestantes pró-Trump, McIndoe decidiu arrancar um cartaz de uma parede, virou-o e escreveu algumas palavras aleatórias: “As aves não são reais“.

“Era uma piada espontânea, mas era um reflexo do absurdo que todos sentiam”, contou.

Foi assim que nasceu a base da conspiração: o jovem dizia fazer parte de um movimento maior que acreditava que as aves tinham sido substituídas por drones de vigilância e que o encobrimento tinha começado nos anos 70.

Sem que ele soubesse, foi filmado e o vídeo foi colocado no Facebook. Acabou por se tornar viral, especialmente entre os adolescentes do sul dos Estados Unidos.

McIndoe decidiu então abraçar o Birds Aren’t Real. “Comecei a encarnar a personagem.

Peter McIndoe e o amigo Connor Gaydos escreveram uma história, inventaram teorias elaboradas e produziram documentos e provas falsas para apoiar as suas reivindicações. “Conseguimos construir um mundo totalmente fictício que os media locais relataram como facto e que o público questionou.”

O dinheiro que angariam com o merchandise do movimento serve para “garantir que eu e o Connor podemos fazer isto a tempo inteiro”. “Tudo o que fizemos com Birds Aren’t Real foi concebido para garantir que não vai numa direção que possa ter um resultado final negativo”, explicou, acrescentando que “é uma forma de rir da loucura”.

Liliana Malainho, ZAP //

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