Para sobreviver, um parasita fatal conduz o louva-a-deus ao suicídio por afogamento

Takuya Sato

Verme de crina de cavalo Chordodes fukuii com o seu hospedeiro louva-a-deus

Para um louva-a-deus, comer o inseto errado pode ser uma verdadeira sentença de morte.

A alimentação de um louva-a-deus é composta essencialmente por insetos menores como moscas, grilos e até outros louva-a-deus.

No entanto, alguns destes seres vivos podem conter um verme parasita capaz de alterar o comportamento deste inseto e levá-lo ao suicídio.

O nome louva-a-deus não é de todo inocente. Este inseto faz parte da ordem Mantodea ou Mantídea, que inclui todos os predadores que possuem patas dianteiras modificadas, prontas para agarrar as suas presas.

A sua notável postura com as patas dobradas assemelha-se à posição de oração, daí a sua designação. São essencialmente carnívoros conhecidos pela sua enorme astúcia e agilidade na caça.

No entanto, algumas das suas presas podem conter o misterioso verme de crina de cavalo Chordodes fukuii. Este parasita é capaz de se alojar no intestino do louva-a-deus e manipular o seu comportamento de forma a que este mergulhe nas águas mais próximas, levando à sua morte.

Este comportamento bizarro é, apenas, uma forma de reprodução que assegura a sobrevivência da espécie. Assim que o hospedeiro se afoga, os vermes libertam-se do hospedeiro e reproduzem-se em águas calmas. Os filhos, por sua vez, servirão de alimento a outros insetos, permitindo que o ciclo se repita.

Mas esta relação de parasitismo pode tornar-se ainda mais estranha. De acordo com uma recente investigação, o verme de crina de cavalo terá evoluído de forma a utilizar genes que a sua espécie “roubou” ao próprio louva-a-deus.

Só assim é que o verme consegue produzir um conjunto de proteínas específicas capaz de afetar o sistema nervoso do louva-a-deus. Esta descoberta, publicada na Current Biology, pode ser o mais extenso caso conhecido de transferência horizontal de genes.

Segundo Takuya Sato, biológo da Universidade de Kobe, no Japão, e autor do estudo, os mantídeos infetados com C. fukuii são atraídos pela luz, semelhante a uma superfície brilhante como a água.

A equipa de investigadores procurou analisar de que forma é que a atividade genética de ambas as espécies se alteram durante o ciclo de infeção. Os resultados indicam que cerca de 1420 genes do parasita se assemelham a genes do seu próprio hospedeiro e que estes mesmo genes estão mais ativos quando o parasita está sob controle.

De facto, os genes podem passar de um organismo vivo para outro, num processo conhecido como transferência horizontal de genes. Este processo é muito comum em bactérias, mas raro em animais.

“Isto seria espantoso – ter milhares de genes adquirido por transferência horizontal entre hospedeiros e parasitas”, afirma Etienne Danchin, biólogo do Instituto de Sophia Agrobiotech, em França, citado pela Scientific American.

O investigador, que não esteve envolvido na investigação, afirma ainda que “é preciso confirmar esta afirmação”, uma vez que os genes potencialmente roubados ainda não foram localizados no genoma do parasita.

O estudo publicado demonstra apenas que os genes estão presentes nas amostras de tecido do parasita, não estando claro se poderá ser apenas uma contaminação.

“Devemos aguardar por mais resultados sobre o papel e a extensão da transferência horizontal de genes, até que esteja disponível uma sequência completa do genoma”, afirma Julie Dunning Hotopp, microbióloga da Universidade Maryland Baltimore.

Sato promete averiguar esta questão e confirma que “o mecanismo de transferência horizontal de genes em C. fukuii ainda é um grande mistério”. A sequenciação do genoma do verme e do hospedeiro será o próximo passo da sua investigação.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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