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No Paquistão, uma adolescente anda porta a porta a romper casamentos infantis

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Nos últimos sete anos, uma jovem ativista tomou como missão garantir que não havia casamentos infantis na zona onde morava, indo porta a porta suplicar às crianças que não casem e terminem os estudos.

De acordo com o OZY, Hadiqa Bashir, agora com 18 anos, tem passado os últimos sete anos a bater às portas da região onde vive, no Paquistão, para convencer os pais de meninas a romper os casamentos infantis. Até agora, Bashir conseguiu acabar com entre 10 a 15 casamentos e convencer 5 dos 25 imãs da região a falar da situação problemática criada pelos casamentos infantis.

Todos os anos, 12 milhões de meninas casam antes de completar 18 anos – quase uma menina a casa três segundos. O casamento infantil ocorre em vários países, culturas e religiões. No Paquistão, 18,3% das meninas casam-se antes dos 18 anos e 3,6% antes dos 15 anos, de acordo com a UNICEF.

Segundo Qamar Naseem, ativista dos direitos da criança de Blue Veins, uma organização paquistanesa, o país não tem nenhuma lei federal contra o casamento infantil, deixando leis locais desiguais, algumas das quais impõem multas mínimas aos pais de crianças noivas.

O sentimento de que esta prática estava errada despertou em Bashir no casamento de uma amiga quando tinham apenas sete anos. “Quando a minha amiga se casou, pensámos que seria como um casamento de bonecas”, disse. “Mas ela desapareceu da escola e contou-nos que o marido lhe batia. Eu estava com um medo inacreditável”.

Para Bashir, a luta é pessoal. A avó queria casá-la, de acordo com a tradição local, com um taxista local quando tinha 11 anos. “A minha família achou que era uma boa combinação. Mas lutei contra a decisão e até os ameacei com consequências legais”, disse.

No entanto, a jovem também teve apoio dentro da família, uma vez que o pai, tia e tio são conhecidos defensores dos direitos humanos – algo que a maior parte das meninas no Paquistão não têm.

Agora, Bashir vai porta a porta tentar romper casamentos infantis. O OZY conta a história de uma menina de 12 anos que a jovem ativista salvou de um casamento um dia antes da cerimónia. Bashir esteve horas a tentar dissuadir os pais da criança.

“Foi difícil, pois a família não tinha dinheiro para mandar a menina para a escola e achava que o casamento era a melhor opção para manter a menina saudável e viva”, contou. Bashir teve de lhes prometer que a sua organização, Girls United for Human Rights, iria providenciar os livros e o uniforme escolar da menina.

Agora, Bashir planeia estudar Direito “para que possa fazer uma mudança legal no sistema”, afirmou. A jovem também está a trabalhar num projeto novo. “Estou a colaborar com outras pessoas para escrever e criar uma história em banda desenhada através da qual quero falar sobre a luta das mulheres e, especialmente, focar na menstruação”.

“Não vou parar o que comecei”, garantiu. “Porque é pessoal. É sobre as minhas irmãs”.

ZAP //

2 Comments

  1. Parabéns! Gosto muito da linha editorial de vocês. Jornalismo sério. Muito bom. Ótima pauta. Acompanho vocês desde 2019 quando estive em Portugal com minha esposa. Compartilho com frequência as notícias do zap.aeiou no meu perfil do Facebook. Sou brasileiro da cidade de São Paulo, Estado de São Paulo.

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