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Paquistanesas querem melhores leis contra a violação. Primeiro-ministro diz para vestirem mais roupa

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Farooq Naeem / AFP

As mulheres paquistaneses pedem melhores leis contra a violação. Entretanto, o seu primeiro-ministro diz-lhes que têm de vestir mais roupa.

O Paquistão tem uma taxa de condenação por violação de 0,3%, uma das mais baixas do mundo. Não é por acaso que este é considerado um dos países mais perigosos para as mulheres, com casos de crimes sexuais e violência doméstica a registarem um rápido aumento nos últimos tempos.

Segundo o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, a culpa é precisamente das mulheres. “Se uma mulher está a vestir pouquíssima roupa, isso terá um impacto sobre os homens, a menos que sejam robôs. É apenas bom senso”, disse Khan numa entrevista à Axios da HBO no domingo.

Nas redes sociais, os internautas criticaram o líder paquistanês, acusando-o de culpar a vítima e de ser apologista da violação.

Durante a entrevista, Imran Khan sugeriu que é “imperialismo cultural” dizer que as roupas femininas não afetam os homens no Paquistão.

“Quando se diz que nem todos os homens se podem conter numa sociedade já profundamente misógina, coloca-se o ónus sobre a vítima, e isso é ainda pior quando o homem mais poderoso do país o diz”, explicou o advogado paquistanês Mavra Ghaznavi à VICE.

Advogados e ativistas também criticam Khan pela sua decisão de instituir uma lei anti-violação em dezembro do ano passado. Especialistas temem que as novas medidas, que incluem a castração química de alguns violadores, não ajudem a aumentar as condenações por agressão sexual no país.

Em abril, Khan também disse que o abuso sexual era resultado da “crescente obscenidade” no país e aconselhou as mulheres a taparem-se e vestirem-se de uma maneira que não fosse um convite à “tentação”, já que “nem todos têm força de vontade” para controlar os seus impulsos.

“A maioria dos casos de violação no Paquistão é de pessoas que o sobrevivente conhece ou detém o poder, e não é resultado de frustração sexual”, disse a ativista de direitos humanos e advogada Maliha Zia à VICE.

“O sistema de justiça é traumatizante para sobreviventes de abuso sexual e, por isso, muitas vezes fazem acordos fora do tribunal ou não denunciam”, concluiu.

ZAP //

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