Pandemias e guerras podem afetar esforços para mitigar as alterações climáticas, revela estudo

Alexis Licht e Grégoire Métais

Um novo estudo ao mundo antigo da Anatólia, no que é agora o território da Turquia, revelou como este se adaptou às alterações climáticas ao longo do tempo, oferecendo ainda um aviso para a emergência climática atual.

Os esforços das populações antigas para minimizar os impactos das alterações climáticas foram minados quando mudanças eram mais longas eram combinadas com pandemias, terramotos e guerras, revelou um novo estudo publicado recentemente na Plos One, que oferece um paralelismo aos tempos modernos.

Os “resultados sugerem que a afirmação de que ‘quando o clima está mal, acontecem coisas más às pessoas e a sociedade declina’ é demasiado simples”, indicou o investigador Matthew Jacobson, professor de arqueologia na Universidade de Glasgow, na Escócia, um dos autores da pesquisa.

Na verdade, referiu, a equipa constatou que “o número de colonatos e a produtividade agrícola dispararam durante o período romano, quando as condições eram muito mais secas em Anatólia”.

“Verificámos também que as pessoas sofreram alterações climáticas relacionadas com a seca no século V, mas só começaram a combater [essa situação] cerca de um século mais tarde, à medida que o clima não melhorava e que a região era atingida pela peste, terramotos e guerras”, continuou.

Na sua perspetiva, as conclusões deste estudo trazem “boas e más notícias para a era moderna, pois sugere que podemos ultrapassar as alterações climáticas antropogénicas, mas apenas se reduzirmos a sua influência e nos mantivermos em alerta para outras catástrofes”.

“Existem paralelismos assustadores com os acontecimentos recentes, tendo em consideração o clima cada vez mais instável, as pandemias em curso e os conflitos atuais. Contudo, acredito que podemos aprender com estes exemplos históricos”, de forma a “construir sociedades resilientes e a nos tornarmos sustentáveis”, frisou.

No estudo, que contou com investigadores das universidades de Glasgow, da Geórgia (Estados Unidos), de Southampton (Inglaterra), da Basileia (Suíça) e de Trent (Canadá), foram compilados dados históricos e arqueológicos de 381 povoações do sudoeste da Anatólia, tendo sido analisados seis períodos históricos – desde a Idade do Bronze (3000-1150 a.C.) até ao período bizantino médio (600-1050 d.C.).

De acordo com a Phys, essa região é rica em fragmentos e restos arqueológicos de cidades, portos e povoados, bem como arquivos paleo-climáticos e paleo-ambientais de alta qualidade, situação “excecionalmente rara”.

Nesta pesquisa, a equipa investigou as alterações climáticas que ocorreram no passado, através da análise química de estalagmites.

“A interpretação das mudanças no número e localização dos assentamentos para cada período apresenta desafios significativos, associados à cronologia, incerteza interpretativa e preservação. Contudo, alguns padrões ainda são observáveis e largamente consistentes com a história regional, as provas arqueológicas e os dados paleo-ambientais”, referiram os investigadores no estudo.

“A mais clara destas tendências é um aumento constante e um pico no número de povoados nos períodos romano e bizantino primitivos, seguido de uma redução significativa de evidência bizantina. Estas alterações são consistentes com os dados de todo o Mediterrâneo Oriental, sendo frequentemente levantada a hipótese de resultarem, em parte, de alterações climáticas e ambientais”, indicaram.

No estudo, a equipa demonstrou “que as correlações simples entre condições climáticas favoráveis (mais húmidas) ou adversas (mais secas) com condições sócio-económicas positivas ou negativas têm várias ressalvas”.

A Anatólia “floresceu durante o período romano mais seco, evoluiu durante outro período de aridez após 460 d.C., mas sofreu múltiplas pressões – políticas, ambientais, climáticas, sísmicas e patogénicas (como a peste bubónica) – após meados do século VI”, apontaram ainda.

Num artigo semelhante publicado recentemente na Science, que contou com a participação de Jacobson e que cobria o mesmo período de tempo, verificou-se que uma longa seca no Iémen enfraqueceu o antigo Reino Himiarita, de tal forma que não lhe permitiu defender das invasões.

Taísa Pagno , ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.