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Pais mais velhos tendem a ter filhos mais “nerds”

Christos Tsoumplekas (Back again!) / Flickr

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De acordo com um estudo recentemente publicado no Reino Unido, os homens que se tornam pais mais tarde tendem a ter filhos com traços típicos dos chamados “nerds” e “geeks”.

Segundo o estudo realizado por investigadores da Universidade King’s College, em Londres, estas crianças, fruto de pais mais velhos, tendem a ser mais espertas, focadas e menos preocupadas em interagir com as outras crianças, escreve a BBC.

Curiosamente, a idade da mãe não teve impacto nos resultados do estudo, os quais parecem ser relevantes apenas para filhos do sexo masculino. As diferenças de género não foram esclarecidas pela investigação.

Esta descoberta, publicada na revista científica Translational Psychiatry, encontra-se entre as raras notícias “positivas” relacionadas com gestações tardias, geralmente associadas à maior incidência de problemas genéticos e doenças como autismo e esquizofrenia.

Os investigadores analisaram resultados de testes feitos em 12 mil gémeos britânicos de um amplo estudo que acompanha o seu desenvolvimento – infância e adolescência – desde 1994, para entender quais os fatores que contribuem para a construção da sua individualidade.

Os cientistas criaram aquilo a que chamaram de “Geek Index”, avaliando crianças de 12 anos relativamente com o seu QI, a sua habilidade de se focar num determinado tema e os níveis de introversão.

“A nossa hipótese é de que QI alto, foco num determinado assunto de interesse e algum grau de introspeção social provavelmente são benéficos numa economia movida pelo conhecimento”, diz o artigo científico.

“Ainda que esses traços estejam distribuídos pela população, a literatura etnográfica agrupa-os sob o guarda-chuva do termo ‘geek'”, acrescenta.

Os que tiveram altas pontuações no ranking “geek” acabaram por ter melhores resultados na escola, sobretudo em temas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Explicações

Entre os participantes do estudo, pais com idade igual ou inferior a 25 anos tiveram filhos que pontuaram menos no chamado “ranking geek” do que os pais com idades entre 35 e 40 anos de idade ou mesmo com mais de 50 anos.

Entre as possíveis explicações, os cientistas apontam que os pais “nerds” podem estar a demorar mais para ter filhos e, por sua vez, transmitir as suas “nerdices”; homens mais velhos podem estar a criar um ambiente familiar que encoraja traços “nerds”, graças a melhores empregos que aumentam o acesso à educação e a experiências extra-curriculares; pode haver novas mutações no esperma que afetam o desenvolvimento.

No entanto, os especialistas não recomendam que os casais tomem decisões quanto à conceção com base neste tipo de descobertas, precisamente por causa dos riscos associados a gestações tardias.

“As famílias não devem ser influenciadas por este estudo nas suas decisões quanto a ter filhos”, adverte Magdalena Janecka, investigadora do King’s College.

“Ainda que ser ‘geek’ pareça algo bom, não recomendo que os futuros pais atrasem os seus planos de constituir família para propositadamente aumentar as hipóteses de ter uma criança com essas qualidades”, afirma Allan Pacey, da Universidade de Sheffield.

“Os perigos da paternidade tardia já são bastante conhecidos, incluindo os riscos de infertilidade, aborto espontâneo ou distúrbios no nascimento. Porém, acho bastante intrigante a ideia do ‘gene geek’. E, tendo em conta a tendência de termos filhos cada vez mais tarde, talvez estejamos destinados a criar uma futura sociedade de génios que nos ajudarão a resolver os problemas do mundo”, imagina.

Ao mesmo tempo, a equipa de investigadores também acredita que alguns traços genéticos herdados de pais mais velhos podem ter influência tanto sobre o aspecto “nerd” como sobre as possibilidades de vir a desenvolver autismo.

“Quando a criança nasce com apenas alguns desses genes, parece ter mais possibilidade de ser bem sucedida na escola. No entanto, com uma ‘dosagem’ mais alta desses genes, somada a outros fatores de risco, pode ser também que tenha uma predisposição maior para o autismo”, afirma Janecka.

ZAP // BBC

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