Durante décadas, os políticos finlandeses usaram as saunas para discutir assuntos e estreitar as relações diplomáticas com líderes estrangeiros.
As saunas são conhecidas pelos seus poderes de relaxamento e até por alguns benefícios para quem tem problemas de circulação sanguínea. No entanto, as suas vantagens não se ficam por aqui.
Na Finlândia, o seu país natal, já muitos acordos importantes foram decididos no meio do vapor e temperaturas altas das saunas. De acordo com o Politico, os políticos até brincavam que a Finlândia estava “a uma sauna de distância” de entrar na NATO, dada a tradição de neutralidade militar da nação nórdica.
A Finlândia lá conseguiu aderir à aliança atlântica após as ameaças de invasão russa terem motivado a mudança de opinião da população e dos políticos. Pelo que se sabe, não houve saunas envolvidas nas negociações com a Turquia e a Hungria, que estavam a travar a adesão.
O gabinete da ex-primeira-ministra Sanna Marin recusou confirmar se a decisão do Governo de apresentar uma candidatura à NATO foi tomada numa sauna. Mas na sede da aliança atlântica, em Bruxelas, acabou de ser instalada, precisamente, uma sauna. Será que é tudo uma coincidência?
“A sauna é, de certa forma, um local sagrado. É um lugar que aproxima as pessoas, para relaxar, para debater. É o sítio onde as pessoas partilham os seus pensamentos mais profundos”, afirma a comissária europeia finlandesa Jutta Urpilainen
Há mais saunas do que carros na Finlândia. Todos os edifícios governamentais no país, assim como as embaixadas e consulados, têm de ter uma sauna nas suas imediações e até as forças armadas constroem saunas de campo pop-up.
A sede da Comissão Europeia tem também uma sauna na cave, assim como a representação permanente da Finlândia em Bruxelas. A capital belga conta ainda com saunas no igreja Seamen’s Church e no restaurante Atrio, que serve uma fusão das cozinhas finlandesa e italiana.
Para o ex-primeiro-ministro Jyrki Katainen, o segredo é a “atmosfera” das saunas. “Quando as pessoas estão lá, são iguais. Nunca se discute numa sauna, a atmosfera é relaxada. É compreensível que as pessoas encontrem um tom comum neste ambiente”, explica.
Durante o seu mandato, entre 2011 e 2014, Katainen foi acompanhado várias vezes na sauna pelos seus convidados na residência oficial do primeiro-ministro em Helsínquia. “A única coisa de que me arrependi quando estava em Bruxelas era não termos uma sauna na nossa casa”, revela.
Os dias de glória das saunas
Entre os políticos finlandeses, o ex-Presidente Urho Kekkonen destaca-se pelo seu amor pela saunas.
“Faziam parte da sua estratégia política. Eram uma forma de lidar com a relação muito delicada com a União Soviética”, explica Minna Ålander, investigadora do Instituto Finlandês de Relações Internacionais.
Em 1957, o Secretário-Geral do Partido Comunista soviético, Nikita Khrushchev, foi um dos convidados ilustres da sauna presidencial de Kekkonen, apesar da reprovação do Politburo. O falecido Príncipe Filipe, marido da rainha Isabel II, também era um visitante regular e, em 1969, convidou uma empresa finlandesa a instalar uma sauna no castelo de Balmoral, a residência da família real britânica na Escócia.
Hoje em dia, as saunas já não têm a mesma importância na diplomacia finlandesa, em parte devido à maior representação política feminina. Em 2012, por exemplo, o comissário da Finlândia Olli Rehn foi acusado de sexismo por convidar apenas jornalistas homens para a sua sauna e dar-lhes informações exclusivas.
Segundo Mikko Saikku, professor na Universidade de Helsínquia, as saunas são um símbolo da “política dominada por homens nos anos 60, 70 e 80”. “Outra dimensão é a nudez. Para os finlandeses, não é nada de especial, interagimos nus sem constrangimento. Mas isso é estranho na cultura anglo-saxónica”, remata.
Talvez outro aliado seja a importância da difusão e penetração da psicoterapia dinâmica /analítica no tratamento da depressão e ansiedade no sector público desde 1980. Parece ser o país da Europa que mais tem usado esta forma de psicoterapia! (Martindale, 2022. Changes in psychoanalytic therapy in Europe over three decades. Then and Now, Psychoanalytic Psychotherapy, 36:4, 383-436, DOI:10.1080/02668734.2022.2124534