Os últimos neandertais poderão ter morrido na Península Ibérica

Tom Bjorklund

Reconstrução artística do pai neandertal e a sua filha.

Não sabemos quando morreu o último Neandertal, mas os arqueólogos pensam que algumas das últimas linhagens viveram na Península Ibérica. Mas Cueva Antón, uma caverna no sudeste de Espanha escavada pelo arqueólogo português João Zilhão, poderá ter sido o “último reduto” dos neandertais.

Os neandertais percorreram a Eurásia, mas desapareceram na altura em que o Homo sapiens chegou à Europa.

Há décadas que os arqueólogos se debatem com uma grande questão: quem foram os últimos neandertais e onde viveram?

Analisando a grande quantidade de evidências que apontam nesse sentido, muitos arqueólogos pensam que os últimos neandertais terão vivido no sul da Península Ibérica — em particular, porque os sítios arqueológicos desta região têm um aspeto um pouco diferente dos sítios do resto da Europa.

Os Neandertais desenvolveram certos tipos de ferramentas, designadas por mustierenses, ou musterianas, em referência ao sítio arqueológico neandertal de Le Moustier, na região da Dordonha, em França.

Este tipo de ferramenta foi inventado há 160.000 anos e desapareceu em grande parte da Europa há 40.000 anos, presumivelmente juntamente com os seus criadores neandertais.

Mas  os arqueólogos encontraram ferramentas musterianas em sítios neandertais do sul da Península Ibérica que foram feitas depois dessa altura.

Segundo os arqueólogos, estes artefactos podem ser a prova de que os Neandertais se mantiveram até mais tarde na região, possivelmente refugiando-se das alterações climáticas que afetaram outras partes da Europa.

No entanto, para demonstrar que os Neandertais estavam vivos nos locais onde essas ferramentas foram encontradas, os arqueólogos precisam, idealmente, de camadas não perturbadas e não contaminadas, nas quais encontram materiais claramente ligados às atividades dos Neandertais – tais como ossos com marcas de cortes, ferramentas de osso e carvão que foi queimado propositadamente.

É aqui que as coisas se complicam, explica o Live Science — especialmente porque muitos sítios neandertais foram escavados ou datados antes de as pessoas saberem como evitar a contaminação de amostras antigas.

Datas incertas

Durante muitos anos, assumiu-se que Gibraltar, território britânico no extremo sul da Península Ibérica, era o último reduto neandertal.

A marinha britânica identificou pela primeira vez um crânio neandertal na gruta Forbes’ Quarry, em 1848, e as escavações na gruta de Gorham começaram no início da década de 1990. Nesta gruta, os escavadores encontraram dezenas de artefactos musterianos e uma lareira com carvão.

Num artigo publicado na revista Nature em 2006, o zoólogo Clive Finlayson e os seus colegas utilizaram a datação por radiocarbono em três amostras de lareiras — que foram datadas entre 28.000 e 22.000 anos atrás, milhares de anos depois da altura que se estimava que os Neandertais tinham morrido.

Estes “últimos Neandertais”, escreveram Finlayson e colegas no seu artigo, tinham acesso a uma grande diversidade de plantas e animais nesta pequena área. “Esta diversidade ecológica pode ter facilitado a sua sobrevivência“.

Mas trabalhos posteriores levantaram questões sobre essas datas.

Num outro estudo, publicado em 2014 também na revista Nature, o arqueológico Tom Higham e colegas usaram técnicas de datação por radiocarbono mais recentes e modelos estatísticos para mostrar que muitas das datas anteriormente publicadas — como a data muito tardia atribuída aos artefactos da Gruta de Gorham, em Gibraltar — estavam incorretas.

Depois de reanalisarem as datas de 40 sítios arqueológicos, Higham e os seus colegas concluíram que os Neandertais não sobreviveram depois de 39 000 a 37 000 anos atrás.

“Há vários sítios que têm cerca de 40 ka cal BP [há 38.000 anos] ou mais, mas nenhum se destaca como Gibraltar como uma última resistência”, disse Higham ao Live Science.

Alguma vez encontraremos o “último reduto”?

Um candidato para a última posição dos Neandertais é Cueva Antón, uma caverna no sudeste da Espanha escavada pelo arqueólogo João Zilhão. Num estudo publicado em 2021 na Quaternary Science Reviews, o investigador português apresentou resultados que datam o carvão do local de há 36 600 anos.

Cueva Antón é um sítio potencialmente interessante“, diz Tom Higham. “O problema é que tem relativamente poucas ferramentas de pedra, o que torna as provas de datação um pouco incertas”.

Mas em vez de se falar dos últimos neandertais, deveríamos falar de um mosaico de grupos diferentes que havia em toda a Europa e provavelmente na Eurásia, considera Higham.

“A minha opinião é que os neandertais foram assimilados por grupos de humanos modernos em vez de se extinguirem de uma forma separada”, conclui o arqueólogo.

Isto significa que talvez nunca saibamos exatamente onde e quando os Neandertais existiram pela última vez.

ZAP //

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