Os primeiros cowboys eram escravos africanos

Um novo estudo genético está a desafiar a compreensão tradicional sobre as origens dos primeiros cowboys e da criação de gado na América.

O estudo, liderado por Nicolas Delsol, investigador do Museu de História Natural da Florida, sugere que alguns dos primeiros cowboys nas Américas foram na realidade africanos escravizados que viajaram com o seu próprio gado.

Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado em agosto na Scientific Reports.

Antes de 1492, não havia gado nativo nas Américas. Cristóvão Colombo introduziu-o quando estabeleceu uma colónia espanhola nas Caraíbas.

Acreditava-se anteriormente que o gado provinha exclusivamente da Europa e que se teria depois espalhado para outras regiões, incluindo México, Panamá e Colômbia.

Um estudo anterior, publicado em 2019 também na Scientific Reports, tinha já concluído que as populações do gado crioulo americano tinham recebido um contributo genético importante de raças de outros continentes, nomeadamente do continente africano.

As novas evidências genéticas agora recolhidas por Nicolas Delsol revelam que alguns dos primeiros bovinos foram importados diretamente de África, provavelmente em navios negreiros.

No estudo agora publicado, Delsol e a sua equipa analisaram o ADN de 21 bovinos de cinco sítios arqueológicos, datados dos séculos XVI a XVIII.

Enquanto sete das amostras mais antigas do Haiti eram consistentes com origens europeias, uma amostra do México tinha uma linhagem rara na Europa, sugerindo que teria sido diretamente importada de África no século XVII.

Esta descoberta reforça o papel central dos trabalhadores africanos escravizados no estabelecimento da criação de gado nas Américas.

“Estas evidências suportam a teoria de que trabalhadores africanos escravizados tiveram um papel central na consolidação das técnicas de criação de gado no continente americano”, explicou Delsol ao Live Science.

“This finding supports recent trends in the history of slavery and the central role of African enslaved workers in the implementation of cattle ranching,” Delsol told Live Science in an email.

Os historiadores têm especulado que os comerciantes de escravos procuravam preferencialmente africanos ocidentais de comunidades de pastoreio, raptando-os juntamente com o seu gado, pelas suas habilidades como criadores de gado.

Estes hábeis cowboys africanos terão provavelmente contribuído para os métodos de criação de gado na América com técnicas como laçar os animais com selas especiais, que não eram comuns em Espanha e Portugal.

O estudo realça a importância dos pastores africanos e do seu gado para o sucesso das redes comerciais espanholas.

“A indústria de criação de gado espanhola talvez não tivesse sido tão bem-sucedida sem o trabalho escravo dos hábeis pastores africanos”, diz ao Live Science a zooarqueóloga Tanya Peres, que não esteve envolvida no estudo.

“As descobertas mostram que condições favoráveis, disponibilidade de vastas terras e pastores africanos talentoso contribuíram para o crescimento da criação de gado nas Caraíbas, México e sul dos Estados Unidos”, acrescenta Peres.

ZAP //

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