Cheng-Han Sun

Conceito artístico de um hominídeo Denisovano
Uma análise de proteínas permitiu determinar que uma mandíbula encontrada em Taiwan pertence a um Denisovano. É a primeira vez que um fóssil desta espécie humana, encontrada pela primeira vez na Sibéria, foi identificado com confiança fora da Ásia central.
Uma mandíbula fossilizada encontrada ao largo da costa de Taiwan há mais de 20 anos pertencia a um grupo de humanos antigos, chamados Denisovanos, identificados pela primeira vez numa caverna siberiana.
A descoberta, apresentada num artigo publicado a semana passada na revista Science, é o resultado de um moroso trabalho para extrair proteínas antigas deste fóssil, e alarga a área geográfica conhecida do grupo — de regiões frias e de alta altitude para climas mais quentes.
“Estou muito entusiasmada com isto”, diz Janet Kelso, bióloga computacional do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, à Nature.
A mandíbula inferior, com quatro dentes intactos, é chamada Penghu 1, e foi descoberta em 2010 no fundo do mar por tripulações de pesca do canal Penghu, a 25 quilómetros da costa oeste de Taiwan.
Penghu 1 foi doada ao Museu Nacional de Ciências Naturais de Taiwan depois de os investigadores terem reconhecido a sua importância como pertencente a um parente humano antigo. Mas a identidade desse parente desconhecido permaneceu um mistério, até agora.
Proteínas antigas
Os investigadores passaram mais de dois anos a aperfeiçoar cuidadosamente técnicas para extrair proteínas antigas de ossos de animais retirados do canal. Depois, usaram ácido para isolar fragmentos de proteínas da superfície de um dente molar de Penghu 1, e enzimas para os extrair da mandíbula.
A equipa identificou vários fragmentos degradados, dois dos quais apresentavam variações específicas na sequência de aminoácidos que correspondem às observadas nas sequências genéticas de um osso de dedo Denisovano encontrado na Caverna Denisova, no sul da Sibéria, em 2008.
Os investigadores também conseguiram determinar que a mandíbula pertencia a um Denisovano do sexo masculino.
É a segunda vez que evidências moleculares de proteínas antigas ligam definitivamente restos fósseis aos Denisovanos. A primeira vez foi em 2019, quando proteínas de uma mandíbula encontrada numa caverna no Tibete, chamada Xiahe 1, foi determinada como sendo um fóssil Denisovano.
Determinar a idade exata do fóssil Penghu é desafiador porque os cientistas não têm amostras do sedimento em que estava enterrado.
“Só se pode dizer que tem mais de 50.000 anos”, diz Rainer Grün, geocronologista da Universidade Nacional Australiana em Camberra, que datou o fóssil em 2015 e posteriormente reanalisou os dados.
A mandíbula Xiahe 1 tem pelo menos 160.000 anos, e material da caverna Denisova indica que os Denisovanos viveram na Sibéria entre 200.000 e 50.000 anos atrás. Na época, os níveis do mar eram mais baixos e e a China continental estava ligada a Taiwan.
Múltiplas populações
Enrico Cappellini, biólogo molecular da Universidade de Copenhaga, diz que a descoberta de restos Denisovanos mais a leste do que o Tibete não é surpreendente.
Populações humanas modernas em todo o Pacífico abrigam sequências genéticas Denisovanas resultantes do cruzamento entre Denisovanos e Homo sapiens. De facto, uma das variantes de sequência que marcou Penghu 1 como Denisovano está presente em mais de 20% da população moderna das Filipinas.
Kelso diz que vestígios de ADN Denisovano encontrados em populações humanas modernas sugerem que existiam múltiplas populações deste hominídeo antigo. Os dados mais recentes também mostram ligeiras diferenças nas sequências de proteínas entre os fósseis Denisovanos de Taiwan, Tibete e Sibéria.
Descobertas futuras poderiam alargar ainda mais a área geográfica conhecida dos Denisovanos, diz Cappellini.
Não se sabe se os Denisovanos alguma vez se aventuraram mais a oeste das Montanhas Altai da Sibéria, ou para sul no subcontinente indiano. Descobrir isso “é potencialmente extremamente interessante”, afirma o biólogo.
Mais ossos também esclareceriam a aparência dos Denisovanos. Existem vários candidatos para tais ossos. Estes incluem um dente do norte do Laos e um crânio grande — apelidado de Homem Dragão — encontrado em Harbin, no norte da China.